Antes endêmica de certos países das regiões central e ocidental da África, a varíola dos macacos começou a se espalhar pelo mundo de forma relevante em maio de 2022, trazendo uma série de dúvidas sobre a doença. Saiba como se pega varíola dos macacos, como ela costuma ser tratada, medidas de isolamento necessárias e outras informações úteis para identificar quadros da doença e preveni-la de maneira eficaz.
O que é a varíola dos macacos
A varíola dos macacos, cujo nome original é “monkeypox”, é uma zoonose viral, ou seja, um vírus transmitido, a princípio, de animais a humanos. Com quadros bem semelhantes, este vírus e o causador da varíola tradicional são da mesma família e, em termos de manifestação, têm como diferença apenas um sintoma e a severidade dos casos, que tende a ser menor em quadros de varíola dos macacos.
Segundo informações da Organização Mundial da Saúde (OMS), a varíola dos macacos foi identificada pela primeira vez em humanos em 1970 na República Democrática do Congo. Desde então, apesar de ser endêmica das regiões central e ocidental da África, ela também já foi identificada nos Estados Unidos, em Israel, no Reino Unido e em Singapura em surtos pontuais de 2003 a 2021.
Em maio de 2022, no entanto, ela passou a se espalhar pelo mundo, gerando inúmeros casos em dezenas de países e levando a OMS a declarar emergência internacional de saúde.
Ainda que o nome da doença faça referência a primatas, eles não são os únicos animais que podem ser infectados por este tipo de varíola. Segundo a OMS, a doença já foi identificada, por exemplo, em esquilos e ratos. Até hoje, a origem desta virose não é completamente conhecida.
Varíola dos macacos: sintomas
Bastante parecido com o quadro da varíola tradicional, os primeiros sintomas da varíola dos macacos são, em geral, febre, calafrios, mal-estar generalizado, dor de cabeça, fadiga e aumento dos gânglios (na região do pescoço, abaixo das orelhas). O último sintoma, inclusive, é o único que diferencia as duas doenças – e, em meio a este quadro, surgem as lesões na pele, semelhantes às da catapora. Na maior parte dos casos, estas lesões têm início no rosto e se espalham pelo corpo.
Segundo informações da OMS, os sintomas de varíola dos macacos podem durar de duas a quatro semanas, e a intensidade deles varia de paciente para paciente. As lesões, por exemplo, podem variar de local: embora afetem, na maior parte das vezes, o rosto, as palmas das mãos, as solas dos pés e as mucosas, podem aparecer também nos genitais e até em estruturas dos olhos.
Estas lesões começam “rasas”, quase como manchas (máculas), evoluem para inchaços um pouco mais firmes (pápulas), depois para lesões com líquido transparente (vesículas), em seguida para lesões com líquido amarelado (pústulas) e, por fim, casquinhas que tendem a cair. A depender do caso, as feridas podem coçar, como acontece na catapora, ou provocar dor.
Apesar de estas serem as características das erupções cutâneas da monkeypox mais reconhecidas e aceitas pela comunidade médica, alguns estudos recentes têm demonstrado que, no atual surto, a manifestação pode estar acontecendo de forma diferente. Uma pesquisa publicada no periódico científico The British Medical Journal apontou que, agora, as bolhas são maciças e não possuem líquido na parte interna, sendo chamadas de pseudo-pústulas.
Além disso, com o desenrolar do surto da doença no mundo, a lista de sintomas de varíola dos macacos aumentou. Embora a relação entre estas condições e a doença ainda esteja sendo avaliada, há relatos de sintomas como inchaço do pênis e dor no ânus em homens diagnosticadas com a infecção.
Como se pega varíola dos macacos?
De acordo com o médico Eduardo Medeiros, professor de infectologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo e diretor científico da Sociedade Paulista de Infectologia (SPI), a principal forma de transmissão da varíola dos macacos é a secreção encontrada nas lesões. Desta forma, o contato de mucosas (como a boca e os genitais) com as feridas e o contato próximo com roupas e lençóis usados por uma pessoa infectada são as formas mais comuns de contágio.
É por isso que, conforme explica o diretor da SPI, é particularmente importante ter certos cuidados com os pertences pessoais de um paciente da doença ao cuidar dela. “Devemos ter cuidado para não sacudir as roupas de um familiar com diagnóstico de ‘monkeypox’, pois isso pode espalhar o vírus no ambiente. As roupas de cama e as vestimentas devem ser colocadas em um balde ou saco plástico, e então postas para lavar na máquina ou no tanque”, pontua o infectologista.
Além disso, segundo o médico, o vírus também tem transmissão respiratória – mas não tão expressiva quanto a de outros vírus, como o causador da Covid-19. Para contrair a varíola dos macacos através de gotículas infectadas emitidas em espirros, na tosse ou na fala, é preciso estar em contato muito frequente e próximo (menos de dois metros de distância) com uma pessoa com a doença.
Enquanto a transmissão por gotículas é possível, porém, o contágio por aerossóis (partículas com vírus que pairam por períodos prolongados no ar) é menos provável. Isso significa, portanto, que dificilmente se pega varíola dos macacos por estar, por exemplo, na presença de alguém com a doença em um vagão de metrô ou ônibus. As chances, segundo o médico, diminuem ainda mais caso todos estejam usando máscara, medida que perdura dada a pandemia de Covid-19.
De forma geral, é possível contrair varíola dos macacos:
- Ao conviver de forma próxima com alguém que esteja doente (dividindo cama e itens pessoais como roupas, lençóis e toalhas);
- Ao ter contato sexual com alguém que esteja doente (por contato da boca e dos genitais com lesões, ou através do beijo);
- Ao cuidar de uma pessoa que está com a doença (em hospitais ou durante o isolamento em casa, devido à necessidade de convívio, de contato próximo e de contato com itens de uso pessoal);
Além disso, a OMS aponta ainda que gestantes podem transmitir varíola dos macacos ao bebê via placenta ou pelo contato próximo durante o pós-parto, e que a transmissão via secreções vaginais ou sêmen está sendo estudada. A doença pode ainda ser transmitida por animais infectados com a doença, também através das lesões.
Complicações da varíola dos macacos
De forma geral, a OMS classifica a varíola dos macacos como uma doença autolimitada, ou seja, com começo, meio e fim bem delimitados e sem grandes complicações. Apesar disso, dependendo das condições imunológicas do paciente e das circunstâncias em que ele está, é possível o surgimento de complicações da varíola dos macacos, como:
- Infecções secundárias;
- Broncopneumonia;
- Sepse (infecção generalizada);
- Encefalite;
- Infecção na córnea com perda de visão.
Varíola dos macacos mata?
Assim como ocorre com outras infecções virais, a varíola dos macacos tende a ser mais perigosa para certos grupos, como imunossuprimidos (pessoas que já fizeram transplantes, pacientes positivos para HIV, pessoas com doenças reumáticas, indivíduos com condições autoimunes, pacientes que estão sob tratamento para câncer, entre outros), gestantes e crianças com menos de oito anos.
Ainda assim, a letalidade da varíola dos macacos é considerada baixa; segundo dados da OMS, a taxa, em geral, varia entre 3% e 6%. Conforme explica o infectologista diretor da SPI, Eduardo Medeiros, a letalidade da doença na atual epidemia é ainda menor. “É inferior a 1%. Casos graves ocorrem em pessoas com grave imunodepressão”, afirma o especialista.
Varíola dos macacos tem cura? Como é o tratamento?
Apesar do receio causado pelo surto da doença no mundo, a varíola dos macacos tem, sim, cura. De acordo com o Ministério da Saúde, como a doença é autolimitada e, em geral, melhora sem grandes intervenções, o tratamento da varíola dos macacos é feito, na maioria das vezes, de forma a amenizar sintomas. É o chamado tratamento de suporte, que garante ao paciente, por exemplo, hidratação, controle de dor, controle de febre e higienização das lesões.
Segundo o infectologista Eduardo Medeiros e a médica Silvia Figueiredo Costa, também diretora da SPI, há ainda a possibilidade de se usar certos medicamentos antivirais a depender do caso.
Como prevenir varíola dos macacos
Devido ao fato de que a transmissão da varíola dos macacos está muito ligada às lesões e ao contato próximo, é indicado – especialmente para quem está cuidando de um paciente (tanto em casa quanto em um hospital) ou convivendo com um – os seguintes hábitos:
- Evite contato próximo, pele a pele, com pessoas que tenham lesões na pele (isso inclui o sexo e o hábito de dormir junto);
- Evite contato com objetos pessoais de pessoas diagnosticadas com a doença;
- Se precisar fazer contato com roupas ou lençóis usados pelo paciente, utilize luvas, máscaras e não chacoalhe os tecidos. O ideal, ainda assim, é não ter contato;
- Não divida itens de uso pessoal, como talheres, copos e toalhas, com alguém diagnosticado com a doença;
- Lave as mãos com água e sabão frequentemente e use álcool em gel quando isso não for possível;
- Evite situações sociais de contato pele a pele de forma geral (quando as pessoas estão vestidas, a transmissão da ‘monkeypox’ é bem mais limitada);
- Procure reduzir o número de parceiros sexuais.
Para auxiliar no controle da doença, pessoas que testam positivo para varíola dos macacos devem ficar em isolamento – e, segundo o infectologista, o ideal é que ele dure até a pessoa não apresentar mais lesões com crosta (período que varia entre três e quatro sintomas a partir do início dos sintomas).
Teste para varíola dos macacos: quando é preciso fazer?
A indicação, segundo o Ministério da Saúde, é realizar testes em todos os casos considerados suspeitos para varíola dos macacos. Ao notar sintomas, é indicado que o paciente busque atendimento médico, e o profissional vai, a partir disso, encaminhá-lo para a coleta.
Vacinação para varíola dos macacos
Além da vacina contra varíola tradicional – que tende a oferecer certa proteção contra a varíola dos macacos – existe um imunizante específico contra esta forma da doença. Ele tem, no entanto, baixa disponibilidade, e entidades de saúde no mundo todo têm trabalhado para garantir a disseminação destas vacinas.
De acordo com as recomendações mais recentes da OMS, é indicado que a vacina seja, a princípio, aplicada em grupos mais expostos ou vulneráveis, como profissionais da saúde e pessoas com múltiplos parceiros sexuais. Até o momento, a vacinação em massa contra varíola dos macacos ainda não é recomendada pelo órgão – e, no Brasil, um comitê foi criado no fim de julho de 2022 para discutir questões relacionadas à imunização conforme for necessário.