Ludmilla, Fernando, Anitta e outros: casos de hérnia de disco estão aumentando?

Nas últimas semanas, tanto os fãs da cantora Ludmilla quanto os do sertanejo Fernando Zor (da dupla com Sorocaba) levaram um susto. Isso porque, no Dia das Mães, Ludmilla usou seu Instagram para mostrar que estava a caminho do hospital com muita dor nas costas e, alguns dias depois, Fernando teve de fazer um show sentado após se queixar de dores na lombar.

Hospitalizada, Ludmilla avisou os seguidores que as fortes dores que a deixaram temporariamente impossibilitada de andar eram decorrentes de não uma, mas três hérnias de disco, e Fernando fez o mesmo após receber tratamento, afirmando estar vivendo o “começo de uma herniazinha”.

Pouco tempo antes, Charlize Theron precisou ficar cinco dias internada pelo problema: ela riu tanto durante um filme que precisou ser levada do cinema por uma ambulância.

Em 2018, a cantora Anitta também afirmou ter descoberto uma hérnia de disco (que logo começou a tratar). E, no mesmo ano, a cantora Wanessa, a apresentadora Antonia Fontenelle e o cantor Péricles foram afastados para tratar a mesma condição.

Quem acompanha casos assim pode estar com a nítida sensação de que estamos vivendo uma “epidemia” de hérnias atualmente.

Porém, segundo o ortopedista Guilherme Sellos, membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, não é bem assim. A verdade é que, hoje em dia, a medicina tem conseguido diagnosticar mais destes quadros, mesmo quando são assintomáticos.

Hérnia de disco está atingindo mais pessoas?

Conforme explica o ortopedista, “hérnia” é o termo usado para quando uma estrutura se desloca de seu lugar natural, e é possível tê-las em diversas partes do corpo. A hérnia de disco, por sua vez, afeta os chamados discos intervertebrais, estruturas que separam as vértebras da coluna, garantindo sua mobilidade e ajudando com o impacto colocado sobre ela.

De acordo com Guilherme, a hérnia nessa parte do corpo acontece conforme um disco se desloca, desgasta ou resseca devido a fatores como idade avançada ou predisposição genética, afetando, na maior parte das vezes, a coluna lombar (próxima ao quadril) e a cervical (que compreende o pescoço), que são as regiões dela com maior mobilidade.

Apesar de parecer que hérnias de disco não são um problema tão corriqueiro quanto outras condições de saúde, Guilherme afirma que, segundo diversos estudos, elas são extremamente comuns na população como um todo, não apenas os artistas que fazem shows em pé.

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“Da mesma forma que a hérnia de disco está aparecendo para as pessoas que estão lá dançando, ativas, também está aparecendo para várias pessoas que estão acamadas, sedentárias, com obesidade. Há uma prevalência na população de forma geral”, explica o ortopedista, citando, inclusive, que alguns estudos apontam o surgimento de hérnias de disco em 90% da população.

O que tem acontecido, segundo ele, é a descoberta mais frequente das chamadas hérnias silenciosas, isto é, quadros em que o paciente não apresenta dor e outros sintomas – e que portanto não seriam identificados alguns anos atrás -, mas que podem estar sofrendo riscos e consequências do problema.

Hérnias silenciosas

O fato de estudos apontarem uma incidência tão alta de hérnias de disco na população não significa que todas essas pessoas apresentem os sintomas normalmente associados ao deslocamento ou desgaste dos discos intervertebrais. Conforme explica o médico, a descoberta mais expressiva desses estudos é justamente o fato de que, em boa parte dos casos, a hérnia na coluna não causa incômodos para quem a tem.

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Segundo Guilherme, a hérnia causa dor quando inflama e afeta nervos. Porém, isso nem sempre ocorre e, nestes casos, ela pode ou não gerar complicações de saúde futuras ao indivíduo.

O que causa hérnia?

“As hérnias podem ser efeito da desidratação e perda de elasticidade do disco pela idade, algum trauma na região, enfraquecimento dos músculos que protegem e estabilizam a coluna, fatores genéticos, estilo de vida, tabagismo ou sedentarismo”, enumera ele.

Como prevenir e tratar?

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De acordo com o ortopedista, embora não seja possível evitar o fator genético nem muitas vezes as possíveis consequências de um trauma na região da coluna, alguns outros fatores ligados essencialmente à manutenção de um estilo de vida mais saudável podem ajudar a prevenir a ocorrência de uma hérnia de disco.

“Tanto para quem trabalha no palco quanto para as pessoas de uma forma geral, a prevenção vem na manutenção da saúde como um todo, uma boa alimentação, qualidade de sono, estilo de vida ativo que trabalhe a flexibilidade da coluna, o fortalecimento da musculatura abdominal que protege e estabiliza a coluna e a manutenção de um peso adequado”, cita Guilherme.

Sobre o tratamento, o médico afirma que cada caso é um caso e eles devem ser tratados individualmente. Nos quadros em que a hérnia existe e não apresenta sintomas, por exemplo, não é necessário fazer tratamento algum, mas quando ela compromete outras estruturas de modo a gerar dor ou incapacitar o paciente de alguma forma, há a possibilidade de reabilitação via fisioterapia.

Ele explica também que nem sempre é preciso afastar o paciente de suas atividades do dia a dia. “É muito individual, a gente tem que ver a idade da pessoa, o preparo, qual o tipo da hérnia, a gravidade da lesão, se tem comprometimento neurológico, muscular, ou não”, diz ele, enfatizando que, normalmente, pessoas que levam um estilo de vida mais ativo levam menos tempo para se recuperar.

Quando o quadro é mais grave, porém, a indicação pode ser outra. “A princípio todos os tratamentos são conservadores até o ponto em que há progressiva lesão neurológica, perda funcional, dores constantes, aí há de se pensar em algum tipo de intervenção”, afirma Guilherme, se referindo a possíveis cirurgias que ajudam a corrigir o problema.

Problemas que afetam a coluna