Com a flexibilização da quarentena em algumas cidades do Brasil e a retomada de atividades físicas ao ar livre por algumas pessoas, muito tem se falado sobre fazer exercícios de máscara. Apesar da crença de que cobrir as vias respiratórias durante o treino possa ser prejudicial, médicos aconselham fortemente manter a máscara no rosto mesmo durante as atividades.
Fazer exercício de máscara é ruim?
Conforme explica José Rodrigues Pereira, pneumologista da BP, a Beneficência Portuguesa de São Paulo, a falta de oxigênio no sangue provocada por obstrução das vias aéreas gera sintomas como tontura, dor de cabeça, sonolência, confusão mental e até perda da consciência – mas as máscaras, se usadas da forma correta, não são capazes de gerar um quadro grave como o caracterizado por estas manifestações.
Segundo ele, estudos realizados com a própria n95 (modelo de máscara mais fechado e rígido) em enfermeiros que usaram o item durante longos períodos, retirando-o apenas por breves intervalos para comer ou fazer atividades similares, demonstraram que as taxas de oxigênio (substância que inspiramos) e de gás carbônico (substância que expiramos) no sangue sofreram alterações mínimas, chegando a valores dentro do normal.
Usar ou não durante a atividade?
Como as máscaras são itens hospitalares que não foram feitos pensando na saúde do usuário durante a prática de atividades físicas, ainda não há dados concretos sobre a concentração destes gases no sangue no uso durante exercícios de alta intensidade. Ainda que os médicos acreditem que nenhum quadro grave seria gerado, no entanto, a orientação é a de diminuir a intensidade do exercício, mas seguir de máscara.
“Em termos de segurança, a orientação que nós temos dado é que as atividades físicas sejam diminuídas em relação à intensidade. Se a pessoa está acostumada a correr numa velocidade alta, que diminua essa velocidade, mas ainda usando a máscara para segurança da própria pessoa e de outras que estiverem em volta caso ela esteja contaminada”, aconselha o pneumologista.
Desconforto não é necessariamente sinal de risco
Mesmo que a máscara não seja capaz de sufocar um adulto quando usada da forma certa, muita gente sente determinados desconfortos quando pratica exercícios ou faz algum esforço físico usando o item – e o médico reconhece a possibilidade de ela trazer sensações incômodas, mas frisa que isso não necessariamente indica a iminência de um quadro clínico de sufocamento.
“A utilização de máscara, ainda mais para pessoas que não são da área da saúde e não estão acostumadas com o uso, pode dar uma sensação de sufocamento, mas é interessante frisar que é uma sensação, não vai trazer sufocamento. A máscara não vai te intoxicar com gás carbônico, isso é uma grande mentira que tem circulado nas redes sociais”, afirma o especialista, citando a razão dos possíveis desconfortos.
“Ela gera um maior aquecimento dessa região, vai servir como um ‘agasalho’, podendo gerar desconforto. E, junto com o ar que é eliminado dos pulmões, existe um pouco de água, pequenas gotículas que vão umedecer a máscara e a região que ela estiver cobrindo, então pode, sim, trazer desconforto durante a atividade física”, afirma, lembrando que pessoas com rinite podem sentir um desconforto maior.
“Algumas pessoas podem sentir sintomas relacionados à rinite, como uma coceira no nariz, espirros frequentes, e congestão nasal. É muito comum que as pessoas que têm rinite alérgica, em uma fase de descompensação [da doença], evoluam com sinusite”, explica ele. A saída, aqui, é focar no tratamento da rinite, visto que os benefícios do uso de máscaras fora de casa seguem superiores às possíveis dificuldades criadas por ela.
Fazer exercícios sem máscara é perigoso
Em ambientes abertos, o risco de contágio pelo novo coronavírus realmente é menor – mas isso não significa que as pessoas estão livres de contrair o vírus, especialmente quando estão praticando atividades físicas. Isso porque, segundo o pneumologista, há fatores relacionados a exercícios (especialmente os de alta intensidade) que aumentam as chances de ser infectado e infectar outras pessoas mesmo a uma distância grande.
Conforme explica o médico, é comum respirar pela boca e mais rapidamente durante as atividades físicas, e isso amplifica a emissão de micropartículas. “As gotículas eliminadas são em número maior, com velocidade maior e atingem uma distância maior também. É sabido que a velocidade das gotículas saindo do pulmão fica em torno de 30 quilômetros por hora e podem chegar a uma distância de oito, dez metros”, diz ele.
Assim, sem a máscara, é possível contrair ou transmitir o vírus mesmo mantendo a distância recomendada por autoridades em saúde (dois metros) – especialmente caso a pessoa parar para falar com alguém durante a prática. Sendo assim, o pneumologista recomenda fortemente o uso do item e, ainda assim, manter uma distância superior a dos metros de outras pessoas.