Em depoimento, Beatriz Goulart contou como a demência frontotemporal (DFT) começou a se manifestar em Maurício Kubrusly, que atualmente não fala mais em decorrência da condição
Em depoimento recente, Beatriz Goulart, esposa do repórter Maurício Kubrusly, contou detalhes do estado atual dele. Atualmente vivendo no interior da Bahia, ele lida com demência frontotemporal – e, segundo ela, ele saiu da Globo já em meio aos sinais claros da condição, além de ter cogitado a eutanásia devido ao diagnóstico.
Esposa de Maurício Kubrusly relata início da demência dele
Convivendo com demência frontotemporal (DFT), condição neurodegenerativa progressiva e incurável, Maurício Kubrusly viveu anos difíceis. Quem relatou os acontecimentos foi Beatriz Goulart em depoimento recente à revista “Veja” – e, em sua fala, ela comentou inclusive como começou a perceber o problema.
Segundo ela, o repórter já apresentava algumas dificuldades de memória que o casal não levava a sério quando, em determinado momento, ele demonstrou estranheza com algo que sempre fez parte de sua vivência como jornalista.
“Ele viu em um dos jornais a foto de uma manifestação e me perguntou o que eram aquelas letras embaixo da imagem. Respondi, surpresa: ‘Como assim, meu amor? Isso é a legenda da fotografia’. E aí ele seguiu: ‘O que é uma legenda?’”, disse ela, afirmando que a situação foi um alerta.
“O episódio me arrepiou, como uma ficha que cai. Percebi que os lapsos de memória recentes tinham evoluído para outro estágio, algo mais sério”, declarou ela, contando também como foi a saída dele da Globo, em 2019.
Na emissora, Maurício apresentou por anos um quadro no “Fantástico”, e decidiu deixá-la em meio aos primeiros sinais da condição. “Toda hora dava um branco e a equipe não sabia como reagir. Não conseguia mais ligar o computador. Um dia, ele me disse: ‘Não quero mais ir pra lá, ninguém fala comigo, estão sugerindo que eu repita o texto dos outros’”, lembrou.
Desejo de eutanásia e mais
Conforme contou Beatriz, Maurício chegou a cogitar a eutanásia, processo pelo qual a pessoa morre de maneira assistida. “Numa situação com a que estamos passando, a morte é um assunto. Maurício chegou a mencionar seguir o mesmo caminho escolhido por Antonio Cicero. ‘Não tenho mais o que fazer aqui’, disparou certa vez”, narrou ela, se referindo ao escritor que, em 2024, optou pelo procedimento na Suíça, país em que é legalizado.
Segundo a esposa de Kubrusly, porém, ela o dissuadiu do processo. “Eu o demovi da ideia. Não vou ficar viúva, não, mas estou me preparando para o dia em que ele esquecer meu nome”, declarou ela, que, apesar das dificuldades, segue cuidando com gosto do marido.
“Maurício perdeu de vez a capacidade de leitura. E parou também de usar o celular, porque começou a mandar mensagens e fotos para pessoas erradas. Entendi que ele estava mudando, e rapidamente. Há menos de um mês, aos 79 anos, parou de falar. É do que eu mais sinto falta – dividir com ele suas descobertas de mundo”, disse ela, se derretendo.
“Vivo com um Maurício diferente a cada dia, mas continuo o amando com a mesma intensidade”, afirmou Beatriz, que também atualizou o público sobre a expectativa de vida do marido. “Com Alzheimer, a pessoa pode viver uns vinte anos. Já com essa demência, dizem que a média é de quatro anos. Maurício já está há sete nessa luta”, concluiu.
Demência frontotemporal (DFT): o que é a doença de Maurício Kubrusly
Maurício Kubrusly tem demência frontotemporal, uma condição neurodegenerativa que não tem cura. Essa é a mesma doença de Bruce Willis, que inclusive culminou na aposentadoria do ator especialmente pelas dificuldades de fala.
A demência frontotemporal afeta as regiões frontal e temporal do cérebro. Essas áreas estão ligadas ao comportamento, à personalidade e às habilidades de comunicação e controle motor do ser humano. Quando há perda de funcionalidade das células cerebrais nessas regiões, ela causa mudanças de comportamento, desinteresse social, perda de empatia, desorganização, hábitos repetitivos, dificuldade de fala, entre outros.
As causas da DFT ainda não são totalmente conhecidas. Considera-se, porém, que fatores genéticos, acúmulo de certas proteínas nas estruturas cerebrais e doenças associadas tenham ligação com o diagnóstico. Ao prejudicar funções cognitivas e motoras, ele aumenta os riscos de morte por uma série de causas – algo que aumenta com a progressão da doença.
Não há cura para a DFT, apenas tratamentos paliativos que buscam dar suporte e melhorar o bem-estar do paciente.