Efeitos colaterais do DIU hormonal não são os mesmos que da pílula, explica médica

Com medo de sofrer efeitos colaterais ou cansadas de esquecer de tomar o remédio diariamente, muitas mulheres estão buscando alternativas à pílula anticoncepcional para não engravidar, mas, visto que 70% das brasileiras não se sentem informadas sobre contracepção segundo um estudo recente, ainda há muitas dúvidas sobre os outros métodos disponíveis – especialmente a respeito do DIU.

O chamado dispositivo intrauterino é um objeto implantado no útero que pode ser de dois tipos: ou ele é feito de cobre ou é composto por hormônios, e ambos agem tornando o ambiente tóxico para os espermatozoides, impedindo, assim, a fecundação.

E embora na prática o DIU seja mais eficaz que a pílula , o medo de que ele cause os mesmos efeitos colaterais afasta muitas mulheres.

Efeitos colaterais da pílula

Conforme mostra a bula destes remédios, os efeitos colaterais da pílula existem – e não é nada raro encontrar mulheres que os apresentam durante o uso. Apesar de variarem de organismo para organismo (bem como de pílula para pílula), e de alguns não apresentarem nenhum deles, a pílula pode causar efeitos que vão desde problemas simples e passageiros até condições graves.

Uma queixa bastante comum entre pessoas que usam a pílula anticoncepcional é o aumento de peso – o que, de acordo com o ginecologista e obstetra Élvio Floresti Junior, trata-se de uma retenção de líquido que gera inchaço, altera o número na balança e dá a impressão de que houve um ganho de peso.

“O excesso hídrico em mulheres pode ter influência hormonal, principalmente de estrogênio e progesterona. A intensidade desse acúmulo vai depender da quantidade e tipo hormonal”, diz o médico, citando também queda da libido – ou seja, diminuição do desejo sexual – como uma consequência comum do uso da pílula.

Além disso, também é possível que a mulher perceba enxaquecas e mudanças de humor que podem caracterizar quadros depressivos – ambos efeitos observados em 1% a 10% dos casos e que, se persistirem, devem ser compartilhados com o médico para se discutir uma possível troca de medicamentos (ou até de método contraceptivo).

Pílula anticoncepcional e trombose

O que mais gera preocupação na pílula, porém, é o fato de ela aumentar os riscos de desenvolver trombose, condição em que um coágulo se forma em uma veia e, além de bloqueá-la, pode também viajar pela corrente sanguínea, afetando órgãos como o pulmão e o cérebro em um processo grave chamado embolia.

Segundo bulas de pílulas populares, como a Diane 35 e a Iumi, este efeito colateral se manifesta em 0,01% a 0,1% das usuárias, além de estar ligado também a hábitos e histórico de saúde da paciente. Quem fuma, por exemplo, não pode usar a pílula, bem como quem tem familiares com problemas circulatórios (já que tudo isso aumenta ainda mais o risco de a condição aparecer).

Tipos de pílula: qual é mais segura?

Apesar de as reações do organismo a esse medicamento serem bem particulares, alguns tipos de pílula anticoncepcional são, de forma geral, conhecidos como mais ou menos vantajosos para quem tem a tendência de desenvolver certos efeitos colaterais ligados a elas.

O Iumi, por exemplo, é um anticoncepcional composto por hormônios diuréticos que podem evitar o acúmulo de líquido e inchaço para mulheres que se incomodaram com esta questão ao usar outra pílula. Enquanto isso, os hormônios presentes na pílula Level, por exemplo, costumam estar relacionados à não alteração da libido.

As pílulas combinadas, segundo o ginecologista, são as mais relacionadas ao risco de se desenvolver trombose – e, ainda assim, elas são bastante comuns. Como exemplos deste tipo de anticoncepcional, é possível citar os medicamentos Diane 35, Belara e Stezza.

Além disso, conforme divulgado pela Food & Drug Administration (FDA), órgão de saúde dos Estados Unidos, pacientes que fazem uso de pílulas com drospirenona na composição têm mais risco de desenvolver trombose. Estas, por sua vez, também são bastante comuns, e é possível citar os medicamentos Yaz, Yasmin e Elani como exemplos.

O médico lembra, porém, que não há pílulas universalmente piores ou melhores, já que seu efeito está ligado tanto a seus princípios ativos quanto à sensibilidade do organismo, hábitos como o tabagismo e fatores de risco como predisposição a certas doenças, diabetes, obesidade e idade avançada. Com isso, a melhor forma de escolher um medicamento adequado é consultando um médico.

Efeitos positivos da pílula

Por outro lado, a pílula pode trazer alguns benefícios (que, mais uma vez, dependem do princípio ativo do medicamento e do organismo em questão), como o de reduzir a oleosidade da pele e dos cabelos, diminuir as cólicas menstruais, regular o ciclo e, dependendo do remédio, diminuir o fluxo menstrual.

Muitas vezes, o medicamento também é usado como tratamento hormonal – como para casos de endometriose e de ovários policísticos, por exemplo.

DIU tem os mesmo efeitos que a pílula?

Existem dois tipos de DIU: o de cobre e o hormonal (também conhecido como Mirena). Ambos agem tornando o útero “tóxico” para espermatozoides, impedindo, assim, a fecundação. O que difere é que, no primeiro caso, este efeito ocorre graças á presença do cobre e, no segundo, a uma combinação de hormônios.

É justamente o tipo hormonal que causa medo em muitas mulheres, por acharem que os riscos são similares aos da pílula. Conforme esclarece a ginecologista Ilza Monteiro, porém, os efeitos colaterais do DIU não são os mesmos do remédio.

DIU hormonal aumenta o risco de trombose?

A médica, que também faz parte da diretoria da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), explica: “A maior parte dos efeitos colaterais da pílula estão relacionados a um componente chamado estrogênio. O DIU hormonal não contém estrogênio, ele só tem a progesterona, e essa substância tem muito pouco efeito colateral associado”.

Além disso, o DIU tem ação local, enquanto a pílula é absorvida de forma “geral” pelo corpo, uma vez que é ingerida via oral.

Isso faz com que o risco de este método causar trombose, enxaqueca, retenção de líquido e diminuição da libido seja nulo, segundo a médica.

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Efeitos colaterais do DIU

Por outro lado, segundo a médica, é possível que a paciente sinta cólicas durante alguns dias após a inserção do dispositivo (que não devem se estender) e observe sangramentos fora de hora (os “escapes”) durante os três primeiros meses. “Passado esse período, ele começa a secar a menstruação, e a tendência é que a mulher desenvolva cada vez menos sangramento”, explica Ilza.

Assim como ocorre no uso da pílula, efeitos colaterais indesejados – como aumento do fluxo sanguíneo e da cólica, por exemplo – estão relacionados às particularidades do corpo da mulher. Segundo o Coletivo Feminista de Sexualidade e Saúde, o DIU de cobre, por exemplo, não pode ser usado por quem já tem fluxo intenso e cólicas fortes, já que potencializa estas características.

Riscos relacionados ao DIU

Isso não significa, porém, que a colocação deste dispositivo não traga riscos. Por se tratar de um procedimento invasivo e requerer uma boa análise da anatomia do útero (bem como uma colocação apropriada), é possível que ele gere complicações como a perfuração do útero pelo DIU.

Segundo o coletivo, o dispositivo de cobre gera perfuração em uma paciente a cada 2 mil (ou seja, o risco é de 0,05%). Enquanto isso, apesar de não especificar uma porcentagem para o risco, a bula do DIU Mirena afirma que ele é baixo, mais comum no momento da inserção, em lactantes, mulheres que deram à luz até 36 semanas antes do procedimento e naquelas com útero retrovertido (inclinado para trás em vez de para frente).

Além disso, a gravidez ectópica também é algo que pode acontecer por decorrência do uso do DIU, mas o risco segue baixo – conforme a bula do dispositivo, uma em cada mil pacientes (0,1% delas) vive esta situação, enquanto o risco para mulheres que não usam nenhum método contraceptivo varia entre 0,3% e 0,5%.

Bem como ocorre com a pílula anticoncepcional, porém, os riscos do uso do DIU estão relacionados ao organismo da paciente e há mulheres que não podem utilizá-lo. “Não posso colocar DIU em uma mulher que teve parto agora e teve uma infecção, malformação de útero e câncer”, afirma a médica.

Sendo assim, para evitar efeitos colaterais indesejados e minimizar riscos, Ilza orienta que as mulheres que se interessam pelo DIU busquem informações e médicos adeptos do método – já que apenas eles podem realizar a implantação corretamente, bem como avaliar se o aparelho reprodutor da mulher pode comportá-lo.

Caso o organismo esteja apto e a paciente opte pelo método, vale lembrar que o uso de anestesia na implantação do DIU é contraindicado, uma vez que a sensibilidade da mulher à dor é um importante guia para o médico que estiver realizando o procedimento.

Tem uma dúvida de saúde? Envie para [email protected] e ela poderá ser respondida por um especialista em nossa nova coluna: VIX Responde.

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