Quando as pessoas bebem demais, normalmente apresentam sintomas como perda de coordenação motora, tontura e náuseas – mas o que muita gente não sabe é que uma síndrome bastante rara também pode gerar o mesmo quadro acompanhado de uma alta concentração de álcool no sangue sem que a pessoa tenha ingerido sequer um drink.
É o caso de um homem de 61 anos cujo quadro foi documentado pela esposa enfermeira e posteriormente avaliado por pesquisadores da Panola College, no Texas (Estados Unidos). Durante cinco anos, ele apresentou sintomas de embriaguez em momentos variados sem ingerir bebida alcoólica alguma – e, no fim, a culpa era de uma doença chamada Síndrome da Autocervejaria.
Homem ficava bêbado sem beber
Conforme mostra o estudo, realizado pelos pesquisadores Barbara Cordell e Justin McCarthy, o quadro do homem (cujo nome não foi divulgado) começou em 2004 quando, ao operar o pé, precisou fazer um tratamento com antibióticos. Depois disso, ele começou a ficar muito bêbado com apenas duas cervejas, além de se mostrar embriagado em outros momentos aleatórios, sem que tivesse ingerido uma gota de álcool.
Estranhando os sintomas, a esposa do homem (que é enfermeira) decidiu monitorar a concentração de álcool no organismo do marido usando um bafômetro, e foi surpreendida por quantidades que ultrapassavam o limite permitido por lei nos Estados Unidos. Enquanto o permitido é 0,08 miligramas de álcool por litro de ar, ele chegava a apresentar de 0,33 a 0,40.
Conforme documentava o estranho quadro do marido, a enfermeira notou que o surgimento dos sintomas era mais frequente quando ele praticava atividades físicas ou pulava uma refeição – e a condição também foi relacionada com o consumo de doces com licor na composição e, é claro, um dia após o consumo de bebidas alcoólicas.
Com o passar dos anos, os episódios começaram a se agravar e, em 2009, ele foi levado ao pronto-socorro apresentando uma concentração de 0,37 mg de álcool/litro de ar. Lá, ele ficou em observação durante um dia inteiro e recebeu o tratamento comum para um caso de embriaguez severa. Na época, os médicos chegaram a cogitar que ele bebia escondido.
Em 2010, porém, ele foi a um gastroenterologista e um check up solucionou o caso; embora ele não tivesse apresentado intolerância à lactose, frutose ou glucose, foi encontrada a bactéria H. Pylori (que causa infecções que podem ou não ser sintomáticas) e a levedura Saccharomyces cerevisiae (usada na fermentação de pães e cerveja) em seu trato digestório.
Diante da descoberta, ele passou por um período de observação de 24 horas antes do qual teve seus pertences revistados para certificar que ele não levava álcool escondido para o hospital. Durante um dia, ele não pôde receber visitas e foi submetido tanto a uma dieta rica em carboidrato quanto a testes de tolerância à glicose – e, mesmo sem beber álcool, ele apresentou álcool no organismo.
Com isso, foi concluído que ele possuía a Síndrome da Fermentação Instestinal (também conhecida como Síndrome da Autocervejaria), em que, devido a uma levedura presente no trato digestivo, o açúcar consumido pelo paciente é fermentado e transformado em etanol, fazendo com que ele fique embriagado mesmo sem consumir bebidas alcoólicas.
Síndrome da Autocervejaria
Por ser rara e haver poucas pesquisas sobre o tema, a Síndrome da Autocervejaria ainda é um tanto quanto misteriosa, mas, a partir de alguns estudos de casos, pesquisadores puderam estabelecer a relação entre ela e outras condições de saúde, bem como especificar os tratamentos possíveis para a condição.
Causas
De acordo com outro estudo, realizado por pesquisadores da Panola College e da Stony Brook University Hospital (em Nova York, nos Estados Unidos), a síndrome costuma surgir a partir de uma perturbação da flora intestinal, normalmente gerada por uma dieta rica em carboidratos ou pelo uso frequente de antibióticos.
Além disso, ela também foi identificada diversas vezes em pessoas com Síndrome do Intestino Curto, obstruções intestinais, Doença de Crohn, obesidade, pacientes que sofrem de estresse em exagero e que pulam refeições. Ela, no entanto, pode aparecer em pessoas saudáveis (tanto homens quanto mulheres e crianças).
Sintomas e complicações
Por criar álcool no organismo, a Síndrome da Autocervejaria faz com que o paciente apresente sintomas comuns da embriaguez, como tontura, perda de coordenação motora, desorientação, fadiga crônica e vômito. Apesar de ser possível contornar esses episódios, porém, a doença pode gerar ainda outras complicações em decorrência dos sintomas.
Conforme explicou o segundo estudo, a fadiga crônica pode fazer com que o paciente apresente ansiedade, depressão e baixa produtividade – fora o fato de que a embriaguez frequente tende a prejudicar a vida social dele (colocando em risco seu emprego e seus relacionamentos), bem como causar acidentes graves e até fazer com que o indivíduo seja preso.
Tratamento
No caso do paciente de 61 anos, a síndrome foi tratada com alguns remédios; além de passar três semanas tomando Fluconazol e outras três sendo tratado com Nistatina (ambos medicamentos antifúngicos), ele também seguiu uma dieta restrita, sem consumir qualquer quantidade de açúcar ou carboidratos. Por fim, ele tomou suplementos para recolonizar a flora intestinal.
De acordo com o segundo estudo, o tratamento para essa condição costuma seguir esses passos (estabilização da embriaguez, medicações para acabar com as leveduras, mudanças na dieta e administração de probióticos), mas os remédios utilizados dependerão do tipo de fungo ou bactéria presentes no organismo do paciente.
Estudo faz apelo a médicos
Além de a síndrome ser rara, os pesquisadores também acreditam que ela é pouco diagnosticada devido ao fato de que boa parte dos médicos não a consideram como diagnóstico ou simplesmente não a conhecem. Sendo assim, os estudos incentivam novas investigações sobre o tema e testes para esses fungos em todo caso de embriaguez em que o paciente afirma não ter bebido.
Tem uma dúvida de saúde? Envie para [email protected] e ela poderá ser respondida por um especialista em nossa nova coluna, o VIX Responde.
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