Ciência se inspira em mulher que “cheira” Parkinson para nova forma de detectar a doença

por | set 15, 2022 | Saúde

Doença neurodegenerativa ainda sem cura, o Parkinson é diagnosticado apenas quando o paciente já apresenta alguns de seus sintomas, que podem ser bastante variados e incluem desde tremores a dificuldade para andar e falar. Mas em um futuro próximo, é possível que a condição seja detectada pelo cheiro e com um teste de menos de cinco minutos – tudo inspirado em uma mulher que “cheirou” a condição no marido.

Teste de Parkinson por “cheiro”

Cientistas da Universidade de Manchester, no Reino Unido, criaram um novo teste simples e rápido para a identificação de Parkinson, que entrega resultados dentro de apenas três minutos de forma bem peculiar. A descoberta, publicada recentemente no periódico Journal of the American Chemical Society, foi inspirada em Joy Milne, uma mulher que, segundo seu relato, conseguiu “cheirar” a doença no marido anos antes de ele ser diagnosticado.

Joy Milner, mulher que conseguiu
Universidade de Manchester/Divulgação

De acordo com o comunicado sobre o estudo, Joy tem uma condição chamada hiperosmia hereditária, algo que a torna mais sensível a odores de forma geral. Por isso, ela é capaz de sentir um odor distinto relacionado à doenca antes mesmo dos sintomas clássicos surgirem – o que, segundo cientistas, ocorre porque pacientes com Parkinson têm uma produção aumentada de sebo na pele, e certas substâncias únicas ligadas à doença criam um cheiro característico que fica mais forte nas costas, onde a pele é lavada com menos frequência.

Diante da descoberta, pesquisadores apostaram então neste sebo para criar o teste. Após coletar a substância de forma simples e não invasiva das costas tanto de pacientes com Parkinson (79 pessoas) quanto de um grupo de controle saudável (71 pessoas), os responsáveis pelo estudo compararam as amostras e encontraram mais de 4 mil compostos únicos nelas, entre os quais 500 apresentaram diferenças entre os grupos.

Cérebro
Dr_Microbe/Istock

O teste, portanto, seria realizado da seguinte forma: sebo coletado do paciente é transferido para uma superfície de papel e entra em contato com uma gotinha de solvente. Durante o processo que se segue, os compostos em questão se separam do sebo, tornando possível uma análise rápida que, segundo pesquisadores, pode revolucionar o diagnóstico de Parkinson, levando em consideração que, atualmente, não há nenhum teste para a doença baseado em biomarcadores.

Agora, o foco da equipe está em transferir estas descobertas para um contexto clínico – e acredita-se que, além de ser um grande passo para o diagnóstico do Parkinson, permitindo uma detecção mais precoce da doença, o estudo pode ainda abrir portas para a possibilidade de diagnosticar outras doenças pela análise não invasiva do sebo.

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