Entrevista de emprego, encontro amoroso, uma decisão importante… muitos são os gatilhos para a ansiedade, e eles variam bastante de pessoa para pessoa.
No caso do psiquiatra Ary Gadelha, o estado surge quando ele precisa falar em público. E como um profissional especializado em tratar os transtornos mentais dos outros lida com sentimentos como este na vida pessoal?
Ansiedade ou transtorno de ansiedade?

Em primeiro lugar, é preciso diferenciar emoção de distúrbio. “Ansiedade é estado de alerta, preocupação. Hoje, se fala muito dela como vilã, mas é uma coisa absolutamente normal. Nós temos que ser ansiosos para detectar algo que pode ser um perigo e nos preparar para as situações”, explica o médico, que participou do lançamento do Instituo Ame Sua Mente (ASM), nesta quarta-feira (13), em São Paulo.
A associação, sem fins lucrativos, é formada por especialistas do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e visa promover reflexões e debates sobre saúde mental.
Sentir ansiedade é, portanto, natural e importante para a sobrevivência. O problema, afirma o também psiquiatra e representante do Instituto ASM, Rodrigo Bressan, surge quando há impossibilidade de superar os pensamentos ansiosos. “Eles ficam se repetindo sem parar e algumas vezes se concretizam na realidade. E eu fico lá, paralisado, sem conseguir fazer as coisas”, define de forma simplificada.

O transtorno ansioso necessita de avaliação médica para ser diagnosticado e tratado, podendo comprometer severamente a qualidade de vida do sujeito. Já a ansiedade, quando não patológica, é passageira – mas isso não significa que ela não possa causar alguns prejuízos e deva ser administrada.
Como lidar com a ansiedade
Para Ary Gadelha, são necessários alguns mecanismos para evitar que a ansiedade de falar em público prejudique seu desempenho.
“A questão da ansiedade é o meu grande desafio. A minha família é de ansiosos, todos somos. E como eu gosto muito da parte acadêmica, sou professor, tive que desafiar esse meu medo de falar em publico e desenvolver manerias de lidar com isso. Quando você quer muito, vai desenvolvendo estratégias”, diz, citando algumas:

- Dicas de amigos: “Uma estratégia é pedir ajuda, conversar com as pessoas sobre como elas fazem para superar a questão. Eu pedi várias dicas para o meu orientador, que fala muito bem em público”
- Meditar: “Com a meditação, você pode mudar o jeito do seu cérebro funcionar, então não é só o remédio que pode ajudar. (…) Trazer o pensamento para o momento presente, sair um pouco da expectativa, da fantasia, do futuro que pode ser catastrófico foi algo que me ajudou”
- Tempo para o prazer: “Para não pilhar no dia a dia, eu – que amo comer – tenho minha hora do almoço sagrada. Trabalho 16 horas por dia se precisar, mas pelo menos por uma hora eu sento, paro, e aquela é a hora em que eu dou uma desacelerada”

- Prestar atenção às emoções para que não fiquem reprimidas: “Evolutivamente, a gente tem essas emoções e elas têm uma função. A gente tem que percebê-las, pois elas podem ser muito úteis”
- Falar sobre o problema: “A gente perdeu um pouco a capacidade de falar sobre essas coisas e de se abrir. É um estigma”
- Buscar profissionais, quando necessário: “Seja um psicólogo, um psiquiatra… E se precisar de remédio ou terapia, faça. A terapia é capaz de mudar o funcionamento do cérebro”
- Lembrar-se de funções básicas: “Não deixe de dormir bem, comer e fazer atividade física, que é uma bela maneira de cuidar do cérebro e da mente.”
Tem uma dúvida de saúde? Envie para [email protected] e ela poderá ser respondida por um especialista em nossa nova coluna: VIX Responde.
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