Com diversos sabores e sem a fumaça malcheirosa do cigarro convencional, o cigarro eletrônico, também chamado de “vape” e “pod”, se popularizou muito entre jovens nos últimos anos. Ao contrário do que muitos pensam, porém, o cigarro eletrônico prejudica a saúde e existe até uma doença específica e grave ligada ao uso deste dispositivo. Saiba tudo sobre o cigarro eletrônico e os riscos trazidos por ele ao organismo.
Cigarro eletrônico: como funciona
O cigarro eletrônico é um item classificado, no Brasil, entre os chamados dispositivos eletrônicos para fumar, ou DEFs e, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), foi criado na intenção de substituir o cigarro convencional. Em geral, eles têm um bocal, uma câmara para o líquido usado nos itens e ainda uma bateria, responsável por aquecer o fluido e gerar o aerossol inalado no uso.
Disponível em vários formatos, eles tendem a ser cilíndricos e, enquanto alguns se parecem com cigarros convencionais ou pequenos pen drives, outros têm um visual diferenciado, com partes transparentes e tamanhos maiores. Além disso, há tanto dispositivos descartáveis quanto os de múltiplos usos, que podem ser recarregados.
Quanto aos tipos de cigarro eletrônico, um informativo do Inca sobre os dispositivos os classifica em quatro categorias. São elas:
- Cigarro eletrônico convencional: neste dispositivo, a bateria aquece um líquido que se transforma em aerossol e é inalado pelo usuário. Este fluido, por sua vez, pode conter substâncias como nicotina ou ativos derivados da Cannabis, como tetrahidrocanabinol (THC) ou canabidiol (CBD);
- Cigarros aquecidos: já neste item, um pequeno cigarro ou bastão de tabaco é aquecido, produzindo o aerossol. Em geral, este tipo de cigarro eletrônico contém a mesma quantidade de nicotina que um cigarro convencional;
- Vaporizador de ervas secas: aqui, tabaco picado ou outras ervas são aquecidas e este processo produz o aerossol inalado pelo usuário;
- Produtos híbridos: nestes dispositivos, há dois reservatórios, sendo um para ervas e outro para líquidos.
Cigarro eletrônico ou “vape”?
De acordo com a Sociedade Americana de Câncer, o cigarro eletrônico é conhecido, entre seus usuários, por diversos nomes e apelidos, como “pod”, “pen drive”, “vaporizador” e “vape”. Não há, no entanto, diferença entre cigarro eletrônico e “vape”, e o nome em inglês vem de “vaporizar”, fazendo alusão ao aerossol inalado durante o uso, constantemente descrito como um vapor.
Existe cigarro eletrônico infantil?
Muito popular entre jovens, o cigarro eletrônico também tem sido usado por crianças. O “vape” usado por elas, no entanto, não é diferente dos demais; atualmente, não há dispositivos especificamente infantis e nenhum deles é seguro tanto para adultos quanto para crianças.
Cigarro eletrônico prejudica a saúde
Muito utilizado sob a ideia falsa de que não emite nada além de vapor d’água com sabores e fragrância, o cigarro eletrônico faz mal à saúde de formas que já foram amplamente identificadas e seguem sendo estudadas. De acordo com autoridades em saúde, o uso do “vape” é responsável por causar uma condição chamada EVALI (E-cigarette or Vaping product use-Associated Lung Injury), sigla que designa lesões pulmonares associadas ao uso de cigarros eletrônicos.
Em geral, os sintomas da doença causada pelo cigarro eletrônico variam de questões mais leves, como tosse e problemas gástricos, a sinais moderados e graves, como dor no peito, falta de ar e febre. Além disso, de acordo com estudos, o quadro, quando não tratado, pode evoluir para fibrose pulmonar, pneumonia e insuficiências respiratória. Em geral, pacientes tendem a se recuperar após cessar o uso do dispositivo e receber atendimento médico, mas, nos Estados Unidos, mortes já foram ligadas à doença do cigarro eletrônico.
Diagnosticada pela primeira vez em 2019, a EVALI tem seus casos monitorados pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) nos Estados Unidos – e, enquanto os primeiros levantamentos, que foram publicados no mesmo ano, mostravam cerca de 200 diagnósticos da doença, apenas cinco meses depois, em 2020, o número já se aproximava de 3 mil.
Além da EVALI, o pneumologista Diego Ramos, médico da Medicina Interna Personalizada (MIP), em São Paulo, alerta ainda que o uso de cigarros eletrônicos também pode potencializar quadros de saúde pulmonares pré-existentes e está ligado ao surgimento de tumores e doenças cardiovasculares a longo prazo. As causas para isso, segundo especialistas e estudos, pode estar no fato de que, quando aquecidas, certas substâncias destes dispositivos se transformam em ativos cancerígenas, como formaldeído.
Doença causada pelo cigarro eletrônico: sintomas, diagnóstico e mais
De acordo com a American Lung Association, não existe um teste para a EVALI, doença causada pelo uso do “vape”, e o diagnóstico é feito com critérios de eliminação já que, em geral, os sinais da condição também são comuns em outros quadros. Sendo assim, médicos avaliam os hábitos do paciente, bem como o histórico de uso de cigarros eletrônicos, e podem pedir exames como raio-x e tomografias do tórax para buscar focos de vidro no pulmão (opacidades que indicam danos no tecido).
Quanto aos sintomas da doença causada pelo cigarro eletrônico, o órgão lista:
- Fôlego curto/falta de ar;
- Febre e calafrios;
- Tosse;
- Vômito;
- Diarreia;
- Dores de cabeça;
- Tontura;
- Taquicardia;
- Dor no peito.
Diante de um quadro diagnosticado como EVALI, o tratamento adequado vai depender da severidade dos sintomas e pode envolver medicamentos antibióticos ou antivirais (até que se descarte infecções) e corticoides (visando sanar a inflamação dos pulmões). Além disso, em quadros mais graves – que, segundo a American Lung Association, são o caso de 96% dos pacientes nos Estados Unidos –, o paciente pode ter de ser intubado.
Cigarro eletrônico faz mal para quem está perto?
Segundo informações divulgadas pelo NHS, o sistema de saúde britânico, pesquisas sobre os riscos de ser um fumante passivo no caso de cigarros eletrônicos ainda são bastante iniciais, mas, a princípio, o risco não parece ser grande. Isso porque, ao contrário do cigarro convencional, o “vape” não libera o mesmo tipo de fumaça (com monóxido de carbono, por exemplo) e a quantidade de nicotina presente no “vapor” é insignificante.
Ainda assim, devido ao fato de que mais estudos são necessários para cravar a ausência dos riscos, especialistas em saúde recomendam não utilizar cigarros eletrônicos perto de gestantes, bebês e crianças.
Cigarro eletrônico ajuda a parar de fumar?
Apesar da ideia de que cigarros eletrônicos ajudam a parar de fumar, estudos, entidades em saúde e médicos já afirmaram que o efeito do uso pode ser totalmente o oposto. Conforme divulgado pelo Ministério da Saúde, dados do Inca apontam que o uso de “vape” aumenta em mais de três vezes o risco de experimentação do cigarro convencional e mais de quatro vezes o risco do uso em si.
Além disso, ainda que contenham, em geral, menos nicotina que o cigarro convencional, o fato do “vape” ter um sabor mais agradável e emitir um “vapor” que cheira bem e se dissipa com facilidade faz com que seja muito mais fácil utilizá-lo. Isso, por sua vez, pode tornar o hábito cada vez mais frequente entre usuários e, atualmente, já proporciona a difusão do uso destes dispositivos entre pessoas que não costumam se expor ao cigarro convencional, como crianças.
Proibição do cigarro eletrônico: o que dizem as autoridades em saúde
Desde 2009, o cigarro eletrônico é proibido no Brasil, e isso abrange desde a venda e a importação dos dispositivos até as propagandas relacionadas ao item. Em 2022, segundo informações da Agência Brasil, a diretoria colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) voltou a se reunir para discutir o tema, e decidiu, por unanimidade, manter estas restrições, bem como a do uso de DEFs em ambientes coletivos fechados.
Ainda assim, no entanto, os dispositivos continuam sendo importados, comercializados e utilizados ilegalmente por toda a parte – incluindo em ambientes fechados – sem que haja grandes ações para a fiscalização disso.
Famosos que já foram afetados pelo uso do cigarro eletrônico
Extremamente populares, os cigarros eletrônicos são, hoje, mania até entre celebridades no mundo todo – e, em meio a isso, várias já vivenciaram consequências disso para a saúde. No final de 2021, por exemplo, o cantor sertanejo Zé Neto, da dupla com Cristiano, precisou de tratamento para um foco de vidro no pulmão, inflamação que gera, em exames de imagem, uma aparência opaca nas áreas afetadas. Na ocasião, a própria assessoria de Zé Neto ligou o problema ao uso do “vape” pelo artista.
Alguns meses depois, usando as redes sociais, a cantora norte-americana Doja Cat atribuiu a piora de uma infecção de garganta ao uso de cigarros eletrônicos – algo que a levou a ter de passar por uma cirurgia. Na sequência, ela compartilhou com os fãs a decisão de deixar de lado os dispositivos por medo. “Não vale a pena. Imagine toda aquela m**** estranha e venenosa do ‘vape’ entrando em uma ferida completamente aberta na minha garganta”, disse ela na época, após operar as amígdalas devido à piora no quadro infeccioso.
Além disso, também em 2022, o influencer e ex-Fazenda Lucas Viana gerou mais discussões em torno do cigarro eletrônico após ser hospitalizado por um quadro de falta de ar. Ao ser atendido e examinado, ele foi informado de que o problema teria ligação com o uso de “vape” – e, em casa após o susto, ele se livrou de uma coleção impressionante de cigarros eletrônicos, alertando os fãs para os riscos de utilizar estes dispositivos.