Os adesivos desenvolvidos a partir de células tronco e colágeno são efetivos para ganhar tempo em casos de pessoas que aguardam transplante de coração
Estima-se que 60 milhões de pessoas tenham insuficiência cardíaca no mundo. Em grande parte dos casos, essa condição evolui para formas severas que requerem um transplante, algo que nem sempre acontece. É por isso que, atualmente, cientistas buscam formas de ganhar tempo – e uma estratégia testada com êxito recentemente é a utilização de adesivos biológicos implantados na parte de fora do órgão.
Cientistas criam adesivos para conter insuficiência cardíaca
Publicado na revista científica “Nature” recentemente, um experimento ampliou as esperanças de quem sofre com insuficiência cardíaca. Nele, uma equipe de médicos e cientistas aplicou adesivos de material biológico na parte de fora do coração de uma mulher de 46 anos que aguardava um transplante do órgão. Isso estabilizou a condição durante três meses – tempo suficiente para que ela vivesse até o transplante.
Para criar esses adesivos, pesquisadores criaram uma forma de transformar células tronco em células do músculo cardíaco e de tecido conjuntivo. Em seguida, elas foram misturadas com colágeno em gel para criar os “apliques” – que são implantados na superfície do coração em um procedimento minimamente invasivo.
Entenda o caso
A mulher em questão teve um infarto em 2016 e, depois, desenvolveu insuficiência cardíaca. Diante da situação, ela passou por uma cirurgia que implantou 10 desses adesivos no órgão, algo que corresponde a 400 milhões de células de musculatura cardíaca desenvolvidas a partir de células tronco. Essas células são estruturas capazes de assumir forma e função de outras, algo que as torna úteis em processos regenerativos.
Três meses depois, a paciente pôde realizar o transplante, e a espera estável aconteceu graças aos adesivos. Após o transplante, cientistas examinaram o coração antigo, constatado que eles não só estavam nos exatos locais em que foram implantados como também criaram vasos sanguíneos, se ligando firmemente ao tecido cardíaco “original”.
Vantagens dos adesivos para pacientes com insuficiência cardíaca
Pesquisadores frisam que a ideia não é acabar com a necessidade de se transplantar um coração. A ideia, segundo eles, é melhorar as chances de pessoas doentes sobreviverem até haver um órgão compatível e disponível. “Menos de 1% dos pacientes que precisam, são transplantados”, disse Wolfram-Hubertus Zimmermann, farmacologista da Universidade e Centro Médico Göttingen (Alemanha) e coautor do estudo.
Anteriormente, cientistas já haviam tentado implantar estruturas semelhantes derivadas de células tronco diretamente no coração, mas isso resultou em problemas sérios como batimentos irregulares, tumores e rejeição do órgão. Segundo o médico, a novidade oferece, portanto, uma opção inédita e muito aguardada de tratamento para pessoas que estão sob cuidados paliativos.