Internautas têm aconselhado uns aos outros sobre dividir a noite em ciclos de sono de 90 minutos para acordar ao final de um, e não no meio, garantindo um despertar mais tranquilo
Dormir bem e acordar com disposição é um desafio para muitos. Com isso, recentemente, algumas pessoas passaram a recorrer a uma técnica relacionada aos chamados ciclos do sono, que promete estabelecer o melhor horário para acordar bem, deixando para trás um sono leve, e não profundo. Mas, afinal, isso funciona?
A tática viralizou nas redes sociais e há quem diga que mudou de vida após usá-la – mas, segundo a médica especialista em medicina do sono Luciana de Oliveira Palombini, há muito a ser levado em consideração.
Entenda abaixo o que são os ciclos do sono, qual é a duração deles e saiba se a técnica viral realmente faz sentido:
Técnica dos ciclos do sono: o que é
Tanto no TikTok quanto no Twitter, internautas começaram recentemente a disseminar uma técnica que supostamente ajuda quem tende a acordar sempre cansado. A ideia é se basear nos ciclos do sono, momentos em que a atividade do cérebro muda enquanto dormimos.
Esses ciclos se iniciam e terminam em momentos de sono mais leve, passando por períodos de sono profundo. A ideia da dica viral é acordar sempre em um momento de sono leve, evitando o despertar quando o cérebro está em atividade muito lenta por estar bastante adormecido. Isso se baseia na suposição de que os ciclos duram 90 minutos cada.
Sendo assim, uma pessoa que dorme às 22h e acorda às 7h30 levantaria no meio do sétimo ciclo, mas se acordasse às 7h, levantaria mais descansada por acordar no final do sexto.
Nas redes sociais, alguns internautas afirmaram ter “comprovado” a técnica ao fazer os cálculos para ter ao menos 6 ciclos de 90 minutos em suas noites de sono, acordando ao final do sexto.
Monitorar os ciclos do sono funciona?
Conforme explica Luciana de Oliveira Palombini, médica e pesquisadora do Instituto do Sono, a técnica faz, sim, sentido, mas tem falhas.
De acordo com ela, nosso sono se divide em ciclos que passam pelos estágios chamados N1, N2, N3 e REM, sendo o primeiro o mais superficial, e o último o mais profundo. Após o REM, ele volta ao N2, e alguém que acorda nesse momento experimenta um despertar mais suave do que quem é tirado diretamente do estágio N3, por exemplo.
A falha da teoria está no fato de que nem todo ciclo de sono tem 90 minutos. Conforme explica, isso varia tanto de pessoa para pessoa quanto entre os ciclos de uma pessoa em uma mesma noite de sono. “Eles podem variar de 90 a 120 minutos. Esse cálculo pode, se der sorte, cair exatamente no fim de um ciclo ou não. O ciclo lá do início da noite pode ter duração diferente do ciclo do fim da noite”, diz ela.
A especialista ressalta ainda que fazer um cálculo como esse e realmente conseguir cravar o despertar no fim de um ciclo só acontece por acaso. Não é, portanto, possível prever a duração deles.
“Se por acaso esse cálculo coincidiu e a pessoa acorda em um estágio mais superficial, ela vai se sentir melhor. A técnica pode ajudar algumas pessoas, mas não dá para dar essa certeza matemática e dizer que todo mundo vai acordar melhor. É válido, pode ajudar algumas pessoas, mas não dá para garantir”, afirma.
Outros fatores que interferem no sono
Além da técnica ser falha, a médica ainda lembra que acordar sempre cansado ou indisposto não tem relação apenas com o momento dos ciclos de sono em que ocorre o despertar.
“Inclui avaliar outras coisas, como apneia, insônia, número de horas de sono. Se a pessoa faz esse cálculo perfeito dormindo só seis horas, não vai adiantar. Ela vai acordar cansada porque está dormindo um sono insuficiente”, conclui.