De férias com os filhos mais novos e a esposa na Europa, Marcos Mion explicou recentemente por que o filho mais velho, Romeo, não vai a todas as viagens da família. Questionado sobre a ausência de Romeo, o apresentador afirmou que o hábito de não levá-lo em todas as viagens tem relação com o fato do menino ter autismo – e, segundo pediatra e neurologista infantil Clay Brites, um dos fundadores do Instituto NeuroSaber, a quebra da rotina causada por uma viagem pode ser realmente muito dolorosa para algumas pessoas neuroatípicas.
Marcos Mion explica por que faz viagens sem o filho mais velho
Em meio a inúmeros registros com a família na Europa, Marcos Mion fez, recentemente, um vídeo no qual explica o porquê de Romeo, filho mais velho do apresentador, raramente participar destas viagens. Muito questionado sobre o assunto, o apresentador explicou que, devido ao autismo, Romeo não se sente bem em meio a muitas novidades, algo bem difícil de evitar quando se viaja para conhecer novos países.
“O que vocês veem no meu Instagram é o que ele dominou com maestria. Ser hiper simpático, doce, dar um sorriso carinhoso, perguntar ‘como vai?’, demonstrar interesse no próximo, segurar a vontade de explodir de raiva quando bate […]. Isso é muito difícil, encontrar uma forma de suportar um lugar barulhento sem ter uma crise, ou muito cheio, ou muito iluminado, com muito estímulo. O que faz ele conseguir isso é, principalmente, o poder de controlar o resultado dos acontecimentos, não ser surpreendido. Ele domina a rotina”, afirmou o apresentador.
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Segundo Mion, em casa, os dias da semana se repetem nas semanas seguintes, e tudo o que cerca Romeo é sempre igual. “Ele consegue saber exatamente tudo que vai acontecer. Aí tem a comidinha dele, a roupinha no tecido que ele gosta, na cor que ele quer, a caminha… Posso dar cem exemplos lindos de coisas e situações que trazem paz, calma e força para ele. […] E essas coisas não existem em uma viagem”, disse Mion, comentando que, assim como Romeo expressa felicidade de forma física, sem se conter, sentimentos ruins também são exacerbados – e isso gera crises em ocasiões como viagens.
“A a raiva é de explodir, é incontrolável. Sentimentos como ficar nervoso e sentir medo quase não existem porque, na intensidade que o Romeo sente, eles levam direto para o pânico, direto para a crise”, pontuou Mion, ressaltando que, em uma viagem, não é possível acalmar a crise levando Romeo de volta à rotina naquele exato momento
“Não é que ele teve uma crise em um shopping ou na entrada de uma festa, a gente vai voltar correndo para casa e vai ficar tudo bem. Não! Não tem casa. Tem hotel, tem cama estranha, espaço estranho, comida estranha, pessoas estranhas. Não tem nada que aplaca a crise e traz aquela calma arrebatadora”, explicou o apresentador, ressaltando que, nas viagens com os filhos mais novos, os horários e destinos são, muitas vezes, incertos, algo que já fez Romeo ter experiências ruins no passado.
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“A gente estava em Nova York caminhando do restaurante para o hotel e, no caminho, a gente passou em uma livraria. Doninha e Tefo quiseram entrar – nada mais normal, mas não para o autismo do Romeo na época. Não estava combinado que a gente ia para o hotel? Era isso que tinha de acontecer. Não aconteceu, então dois minutos depois lá estava eu deitado no chão da livraria com ele no meu colo enquanto ele tinha uma crise horrível, devastadora. […] Acontece o tempo todo, sem trégua, vira um castigo para ele. Fica péssimo, odiando tudo, tem essas crises constantes e se sente culpado, arrasado”, relatou.
Por fim, Mion afirmou que nem o próprio filho gosta da ideia de fazer estas viagens, preferindo ficar em casa com os avós, e que a solução encontrada para agradar a todos os filhos é fazer mais de uma viagem: uma ao gosto dos mais novos, e outra na qual toda a família se adapta às vontades de Romeo. Geralmente, os destinos são locais que ele já conhece, e o apresentador assegura uma rotina no local.
“Tem, todo ano, a viagem com e para o Romeozão, que são viagens para lugares que ele se sente em casa, que eu posso fazer uma estrutura para ele, como uma casa mesmo, com tudo o que ele gosta. Enquanto os outros dois podem sair para conhecer o mundo em horários malucos e ter a vida cheia de surpresas que eles querem. Normalmente, é Miami ou Orlando. Se não é nenhum desses dois, é um lugar onde eu preciso alugar uma casa e ficar de quinze a vinte dias para ter essa sensação de paz, tranquilidade, segurança”, pontuou.
Assista ao vídeo:
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Autismo e a quebra de rotina: pediatra explica o que acontece
De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), o transtorno do espectro autista (TEA) é um transtorno de desenvolvimento que traz graus variados de comprometimento do comportamento social, da comunicação e da linguagem. Nem todas as pessoas com TEA tem as mesmas dificuldades e os mesmos interesses – mas, em boa parte dos casos, a rotina tem um papel muito importante no bem-estar destas pessoas.
Conforme explica o pediatra e neurologista infantil Clay Brites, crianças com autismo têm, em geral, uma memória extremamente fotográfica, voltada a permanecer sempre nos mesmos estímulos. Em ocasiões como viagens, porém, há uma quebra deste padrão, e isso pode fazer com que a criança não se sinta tão bem quanto em locais com os quais ela já é familiarizada.
“Ficar levando uma criança com autismo a ambientes diferentes só para estimulá-la não é, muitas vezes, um caminho interessante, porque pode levá-la a um grau de estresse tão grande que ela pode, depois, ficar estressada para novas experiências, outras viagens. Dependendo da situação, é bom mesmo poupar e fazer o mínimo necessário”, afirma o médico, frisando que, quando se trata de uma decisão como esta, tudo depende do contexto familiar, da criança e dos estímulos aos quais ela reage positivamente.
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Sobre a decisão da família Mion, o especialista explica que se trata da conformação e o plano que deu mais certo na rotina deles e que a melhor atitude varia de caso para caso.
“Muitas vezes, a família se utiliza de outros caminhos e outros tipos de estímulo para fazer com que sua criança, seu adolescente com autismo possa se desenvolver socialmente. Ele pode ter estímulos diferentes de uma viagem, mas que leva a consequências positivas na vida social do mesmo jeito. Às vezes, ele deixa de levar a criança para viajar em alguns contextos, mas dá estímulos imensos ao menino em casa, em outros ambientes, outros contextos. Está havendo uma compensação”, explica.
Por fim, ele pontua que sair da rotina em situações com as quais a criança ou o adolescente está confortável – como as viagens pensadas para Romeo – é algo proveitoso e contribui para o desenvolvimento social da pessoa com autismo. “Se a criança já está mais confortável, vai estar mais aberta a novas experiências. Isso pode permitir que ela se desenvolva tão bem quanto se fosse para aquela viagem incomum que poderia gerar um estresse muito grande”, conclui.