A neurocientista Stephanie Cacioppo desenvolveu em seu novo livro uma teoria interessante sobre as conexões humanas. Segundo ela, o amor tem uma importância vital na vida humana, podendo ser considerado até uma necessidade básica – como comer, beber água ou ir ao banheiro.
Ela descreve sua teoria na obra “Wired for Love: a Neurocientist’s Journey Through Romance, Loss and the Essence of Human Connection” (“Feitos para o amor: a jornada de uma neurocientista pelo amor, a perda e a essência da conexão humana”, em tradução livre), que além de analisar a “biologia” do amor, conta também uma história pessoal emocionante sobre relações e conexões verdadeiras.
A ciência do amor
Stephanie Ortigue iniciou seus estudos sobre o amor muito cedo, ainda solteira. O afastamento do objeto de pesquisa, segundo a cientista, tornaria “mais fácil” a análise do amor enquanto manifestação neurobiológica humana.
Porém, o jogo virou quando, aos 37 anos, a especialista se apaixonou pelo também cientista John Cacioppo, que estudava justamente os efeitos da solidão prolongada no corpo humano.
Os dois se conheceram numa conferência de neurociência em Xangai e juntos, trabalharam na Escola Pritzker de Medicina, da Universidade de Chicago. Segundo entrevista da cientista para o jornal da Universidade, seu relacionamento era “o encontro perfeito entre os estudos da solidão e do amor”. Desde que se conheceram, nunca mais se afastaram um do outro.
O romance ganhou até uma crônica na coluna “Amor Moderno”, veiculada no jornal The New York Times. Stephanie chegou a adotar o sobrenome do marido, conforme assinou em sua mais recente publicação.
Tudo ia bem, até que John descobriu um câncer e faleceu em março de 2018. Partindo tanto das manifestações físicas do amor em sua fase inicial até a dor e processamento do luto, Stephanie usou sua experiência pessoal para aprimorar sua pesquisa.
Foi assim que, alguns anos após a morte de seu amado, publicou suas considerações sobre os efeitos do amor e da solidão sobre o cérebro e organismo humano.
O amor como necessidade básica humana
Segundo a cientista, o amor pode, sim, ser considerado uma necessidade biológica, assim como beber água, praticar exercício físico ou ter uma alimentação saudável. Em entrevista ao jornal The New York Times, ela explicou “Minhas pesquisas me convenceram que uma vida amorosa sadia é tão essencial ao bem-estar das pessoas quanto uma boa alimentação”.
No entanto, essa vida amorosa não se resume unicamente ao lado romântico. O amor que Stephanie retrata pode incluir um parceiro, mas também pode ser direcionado ao círculo de melhores amigos, à família ou até mesmo a hobbies, como futebol.
O amor, segundo a pesquisadora, é o oposto da solidão, e portanto, seus efeitos na saúde humana são notáveis. É como uma manifestação de felicidade intensa dentro do organismo, que provoca várias reações semelhantes à alegria.
“Quando olhamos para a ausência de relacionamentos positivos e sadios, vemos uma enxurrada de desvantagens físicas e mentais, desde depressão e a hipertensão, passando pela diabetes e o sono fragmentado”, destacou.
Quais os efeitos da paixão no corpo humano?
Biologicamente, segundo a análise de Stephanie, cada “fase” de um relacionamento amoroso provoca uma série de reações no corpo humano.
Primeiramente, uma euforia toma conta do corpo: a pessoa se sente animada, não vê o tempo passar quando está acompanhada de seu amado e sente um calor no corpo. Essas reações se devem a ativação de dopamina e adrenalina. Sorrir e corar as bochechas são reações físicas comuns nesse momento.
No desenrolar da relação, conforme se adquire intimidade e se aprende mais sobre o(a) parceiro(a), a tendência é de “ativação dos neurônios espelho”, uma rede de células cerebrais que mimetiza comportamentos. Quando se está em um relacionamento amoroso longo, essa rede é reforçada para “imitar” alguém com quem se tem um vínculo muito forte.
“Quando nos apaixonamos por alguém, a primeira coisa que notamos é como é prazerosa a sensação. Isso acontece porque o cérebro libera neurotransmissores de bem-estar que elevam nosso estado de ânimo”, explica Stephanie. “Nossa frequência cardíaca se eleva, os níveis da oxitocina, o chamado ‘hormônio do amor’, aumentam, e isso nos faz sentir ligados ao outro”.
Passada a fase “inicial” do amor, o sentimento profundo de “calma e contentamento” com o parceiro invade o organismo. Nessa fase, são ativadas “funções cognitivas mais complexas” em diversas áreas do cérebro, que podem ter efeitos variados, como suprimir dores, melhorar a memória ou aumentar a criatividade.
Por todos esses efeitos, Stephanie define o amor romântico como “um superpoder que faz o cérebro disparar”, explorando os múltiplos efeitos da vida amorosa sadia na vida humana.