Os novos anticoncepcionais > Anticoncepção: uma pequena história da mulher

A metade do século passado foi palco do início da maior conquista social e comportamental da mulher. No princípio dessa espiral evolutiva estava a famosa “pílula”, instrumento que permitiu ao “sexo oposto” dar-se ao prazer sem culpa, viver a sua sexualidade de forma total, partir para a conquista de postos de trabalho, ombreado com os homens em todos os locais onde a gravidez era empecilho e podendo até planejar a sua família de forma justa, prazerosa e em conformidade com seus desejos, anseios e tempos modernos.

Alto preço pagaram as pioneiras. As altas doses hormonais daqueles medicamentos traziam efeitos colaterais tão intensos e desconfortáveis que só mesmo a persistência de um objetivo e o desejo de evolução faziam enfrentar aqueles tempos difíceis.

Aos poucos os anticoncepcionais evoluíram, paralelo aos anseios das mulheres. Elas também tiveram que arcar com o ônus do cuidado com a anticoncepção, com exceção da camisinha. Com o tempo, os contraceptivos foram diminuindo as doses hormonais e introduzindo novos hormônios, aliviando, assim, a mulher do “fardo” pesado dos efeitos colaterais.

Nos dias de hoje, contamos com anticoncepcionais combinados de microdose (não que sua ação seja menor, mas com menores efeitos colaterais), com métodos com apenas progesterona em doses diminutas e até com os de ação local (no endométrio), como pretendem os endoceptivos. Isso permite que a usuária hoje tenha um “leque” de opções, podendo adequar a anticoncepção ao seu organismo e estilo de vida e às suas necessidades comportamentais. E aí podemos citar:

os anticoncepcionais combinados de microdose, com várias combinações de estrógenos e progestogênios;

os injetáveis mensais e trimestrais;

os implantes (famosos entre artistas), colocando dispositivos de depósito sobre a pele por períodos prolongados;

os modernos (para nós brasileiros) endoceptivos, dispositivos de introdução uterina realizada por meio de uma ação local de anticoncepção prolongada e reversível semelhante a métodos definitivos (laqueadura).

Os anticoncepcionais agem de várias formas: evitando a ovulação; interferindo na mobilidade das trompas uterinas; atrofiando o endométrio e, desta forma, impedindo a implantação (nidação) de uma possível gravidez; e, principalmente, espessando o muco cervical (secreção formada na entrada do útero), impedindo a penetração uterina dos espermatozóides. A ação poderá ser isolada ou combinada, dependendo da forma, da medicação, ou do método.

Embora os produtos disponíveis no mercado sejam extremamente seguros e confiáveis, eles não podem ser utilizados por todas as pacientes, estão contra-indicados para pacientes portadoras de certas doenças e, principalmente, para as tabagistas e para as que apresentam efeitos colaterais que, dependendo da usuária, poderão estar associados a alteração da visão, náuseas, dores de cabeça, aparecimento de varizes, alteração do ciclo menstrual, entre outros, que poderão ser contornados ou inviabilizarão o uso do método. Por essa razão, o aconselhamento com um médico da sua confiança é de suma importância para a escolha do método. Porém o método deve ser discutido amplamente, pois você é quem deve escolher, entre todos, o indicado para o seu caso, o que melhor adapte-se ao seu estilo de vida e ao melhor aproveitamento da sua sexualidade e, por fim, que ofereça o melhor do prazer.

Apenas para terminar; não esqueça, nunca, o uso da camisinha nas relações sexuais, visto que é o único meio conhecido, embora não 100% seguro, de proteger-se contra doenças sexualmente transmissíveis.

Dr. Gerson Aranha ( [email protected]) é médico Ginecologista e Obstetra e professor titular da Universidade Católica de Santos.