O fim do vício

Angustiada, nervosa, estressada. Nessas horas nada melhor do que pegar o maço de cigarros, retirar apenas um, cheirá-lo e acendê-lo. Ah, que delícia!!! Dar aquela boa tragada. Deixar a fumaça invadir, penetrar suavemente nosso corpo. Que alívio!!! Em questões de segundos nos sentimos bem melhores. Resolvemos nossos problemas. Só quem fuma entende o que isso significa. Mas mulheres e cigarros formam uma combinação bombástica.

Ruim é para todo mundo que fuma, mas para nós existem alguns agravantes. Cientistas americanos descobriram que as mulheres são portadoras de um gene que as torna mais suscetíveis ao câncer de pulmão do que os homens. E, segundo a psiquiatra Analice Gigliotti, a mulher geralmente consome hormônios via oral – anticoncepcionais ou para regulagem hormonal na menopausa – e essa mistura nos deixa vinte vezes mais vulneráveis ao infarto. (mais detalhes do mal do cigarro nas mulheres na entrevista com a Dra. Analice ao lado).

Algumas pessoas precisam passar por sustos muito grandes para se conscientizarem que precisam parar e largar certos prazeres se quiserem continuar vivendo. É o caso da empresária Mônica Morais, 46 anos. Ela fumava dois maços e meio por dia, trabalhava umas 15 horas e se alimentava quando dava com refeições rápidas estilo junk food. ?Um dia comecei a sentir umas dores abdominais fortes e diferentes. Tomava analgésicos e melhorava. Até que na quinta vez precisei ser levada às pressas para o hospital. Fui direto para UTI com infarto agudo no miocárdio.? Isso já tem três anos. Mônica nunca imaginou que com 43 anos pudesse ter esse tipo de problema. Parou de fumar, mudou a alimentação e faz ginástica todos os dias. ?Esse susto não quero passar de novo. Trabalho menos. Hoje sei administrar melhor meu tempo e consigo fazer tudo e ainda cuidar de mim. Uma coisa que me ajudou bastante é meditar antes de dormir. Assim consigo realmente livrar minha mente dos problemas e a qualidade do meu sono é outra. Durmo bem e profundo a noite toda.?

?Acordei com o braço dormente e percebi que essa sensação me acompanhou durante o dia todo. Às vezes mais forte, às vezes mais fraco, quase imperceptível. No dia seguinte a mesma coisa. Comentei com o meu filho que achou esquisito e não sossegou até me levar para o pronto-socorro. Quando cheguei já foram me entubando e me levando para UTI. Depois dos exames, recebi uma ponte de safena.?, conta a secretária Maria Lúcia Mendonça, 50 anos. Ela fumava dois maços de cigarro, mas com a morte do marido e os problemas financeiros que isso acarretou passou para três e meio por dia. Vivia estressada, driblando seu saldo no banco, as contas para pagar e os filhos para sustentar. Engordou 13 kg de tanta ansiedade. Agora precisa tomar remédio para o resto da vida. Mas largou o cigarro e faz yoga todos os dias.

Motivos não faltam para largar o cigarro. O importante é cada um arrumar o seu impulso pessoal. Renata Gama Filho, 31 anos, fumou durante sete anos da sua vida. Mas tinha certeza que iria parar quando engravidasse. Não precisou esperar tanto. Arrumou um namorado que não fumava, mas também não era chato. ?Foi tudo se encaixando. Eu já queria parar a muito tempo mas não tinha nenhum incentivo. Já não agüentava mais o gosto amargo na minha língua, havia perdido todo o paladar e o pior, não sentia mais cheiro em mim. Aí conheci o Marcelo, todo saudável. Foi o meu maior estímulo. Fomos viajar para Califórnia. Ficamos um mês fora e lá cigarro é totalmente proibido. Foi fácil esse mês enquanto estava de férias. A volta foi terrível. Fiquei extremamente agressiva. Rosnava e tremia. Foi a coisa mais radical e difícil que já fiz na vida. Mas consegui.?, declara Renata, que mesmo há sete anos sem fumar se sente totalmente vulnerável. Ainda ama o cigarro e sente saudade do prazer que ele proporcionava. ?Sei que não posso brincar com isso. Se eu der um trago, eu volto. Meu organismo sentiu muito. Mexeu com todo meu metabolismo. Passei a ter uma prisão de ventre monstra. Engordei sete quilos. Mas é uma grande vitória. Passaria por todo esse sufoco novamente.? A dica que ela dá é: ter muita força de vontade e não se expor. ?Evite falar para as pessoas, assim não vai ter ninguém no seu pé te cobrando nada. Esse é um compromisso seu particular.?

A advogada Laura Crespo, 52 anos, fumou 24 anos. ?Recebi uma dádiva de Deus muito grande e achei que precisava retribuir de alguma forma. Como fumar era a coisa que eu mais gostava de fazer, resolvi abrir mão. O início foi barra pesada. Extremamente difícil, mas hoje sinto um alívio de saber que não sou mais escrava de cigarro e passei a ter cheiro de mulher.? Laura contou com um conselho de amigo que tinha parado de fumar: ?o primeiro mês o cigarro domina. Mas depois, você passa a dominar o cigarro. E isso é maravilhoso.?

?Eu já parei duas vezes e voltei. Comecei a fumar muito cedo, aos 12 anos. Parei duas vezes, por amor, aos outros. A primeira foi por 3 anos, por causa de um namorado que detestava cigarro. O namoro acabou e eu voltei a fumar. Depois parei por 1 ano e meio, quando estive grávida e enquanto amamentava, por amor ao meu filho. Sei bem dos males do cigarro, não os ignoro mesmo! Sinto na pele o cansaço físico quando vou para a academia malhar.? conta nossa cronista Sheila Alves, que hoje se sente discriminada na sociedade. ?Fumo meio que “escondida”, meio que “isolada” dos grupos, para não incomodar e para não receber as constantes críticas. Quero parar de fumar, mas fico adiando. A verdade é que além do vício brabo, eu também gosto do prazer de fumar.?

Prazer, companhia, concentração. O cigarro está associado a muitas coisas boas, por isso é tão difícil largá-lo. Mas não podemos esquecer: envelhece, dá mau hálito, cheiro ruim nas roupas, causa doenças sérias, esterilidade, diminuição do desejo sexual e ainda por cima está fora de moda. Agora o negócio é ser saudável. Praticar esportes, ter uma alimentação balanceada e não se estressar. Então apague essa idéia!!!