Mulheres radicais

por | jun 30, 2016 | Alimentação

Liberdade, prazer, desafio, superação. É o que elas procuram na escalada de montanhas, em trilhas que passam por florestas fechadas, em rios, cachoeiras e em manobras arriscadas. Sim, elas: mulheres. Ainda há quem pense que esportes de risco é coisa de homem, mas engana-se. Afinal, viver a vida de forma radical é o que muitas mulheres também buscam, sem abrir mão, é claro, da sensibilidade e da feminilidade.

Brincar de boneca nunca foi o forte de Fabíola Silva, patinadora profissional. “Eu era muito moleca, meu negócio era jogar bola de gude, peão, etc”, lembra a atleta, que durante muito tempo fez natação e kick boxing. Um dia, Fabíola viu alguns amigos patinando e caiu a ficha: ‘opa, legal!’. Foi então que ela começou a treinar toda semana, até ser convidada a participar dos X Games de 1996. “Depois disso, nunca mais parei”, conta.

Fabíola se despediu do amadorismo para se tornar uma atleta completa. “Abri mão da minha família para ir morar nos EUA e confesso que foi difícil me acostumar à cultura de outro país, mas acho que toda profissão tem seu sacrifício, então é válido se você realmente gosta do que faz”, acredita.

A vida radical não é mesmo fácil, mas compensa. De segunda a sexta-feira, ela acorda cedinho e faz musculação, duas horas por dia, acompanhada pelo personal trainer. “Ganhei bastante massa muscular e fiquei com o corpo bem definido. Estou satisfeitíssima”, conta a atleta. Sábados e domingos são os dias de calçar os patins e treinar as manobras. “Às vezes dá medo de executar algumas, mas é preciso dominá-lo”, explica Fabíola, que garante não sentir nenhum preconceito por parte dos colegas de profissão. “Os homens veem que me dedico ao esporte tanto quanto eles, então não há motivo para implicâncias”, diz.

Cabeleireiro, manicure e pedicure também têm espaço na agenda da atleta. “É preciso ter esses cuidados, né? Acho importante manter a feminilidade. Quando estou treinando ou competindo, uso regatas mais apertadas e passo até rímel. Só não posso usar muita maquiagem, porque senão ela derrete com o suor”, conta Fabíola. As unhas também descascam durante os treinos e competições, mas, segundo a atleta, as dela estão sempre bem feitinhas. Com tantos compromissos ainda dá tempo de namorar? “Não exatamente, mas a gente consegue dar umas bitoquinhas”, diverte-se a patinadora.

Já a triatleta Sandra Soldan, que participou dos jogos Panamericanos, teve a sorte de encontrar a alma gêmea em seu treinador. “Aí fica mais fácil conciliar esporte, minha profissão como médica, a família e os amigos. O maridão está sempre suando comigo, vibrando, torcendo, dando força. Ele sempre foi o meu maior incentivador”, conta Sandra. Filhos ainda não estão nos planos do casal e ela explica o porquê: “Filho é prioridade na vida, você tem que deixar certas coisas de lado e eu, por exemplo, não estou preparada para abrir mão do esporte, que é o que eu faria caso fosse mãe, para dar atenção total à criança”.

Sandra também precisou abrir mão das noitadas e de muitos tipos de comida pelo esporte. “Mas sou feliz saindo para comer comida japonesa, por exemplo. Basta ter bom senso, até porque esse é um bem geral que você faz para a sua saúde, seja você esportista ou não”, afirma a triatleta. E por falar em benefícios do esporte, Sandra garante que eles são muitos, tanto físicos quanto psicológicos. “Desde os seis anos de idade, eu fazia natação, por causa da bronquite, e a melhora foi incrível. Na faculdade, diminuí o ritmo, comecei a comer muita besteira por causa da ansiedade e fiquei bem gordinha. Mas, hoje, meu corpo é de atleta e minha qualidade de vida é outra”, garante.

Ela conta que o sono é mais equilibrado, a ansiedade é menor, o bom humor é maior, a convivência social é melhor e por aí vai. “Depressão, então, é uma palavra que não existe no vocabulário de quem pratica atividade física! Artigos científicos comprovam que o esporte é realmente curativo, é tratamento número um para diversas doenças”, afirma Sandra.

A jornalista Marina Amano também não abre mão dessa pitada de aventura na vida dela e está sempre nas competições de corrida de aventura, que é como se fosse um triathlon. As modalidades mais usadas são trekking, mountain bike, remo, técnicas verticais (rapel, escalada, tirolesa, etc) e orientação (navegação a partir de um mapa, com bússola e tudo mais). “Mais do que desafiar o corpo em um treino forte é desafiar a mente em uma corrida de longa distância. Me divirto muito competindo”, garante.

Segundo ela, além do preparo físico, a corrida lhe deu uma lição de vida: querer é poder. “Nunca me imaginei correndo, pedalando e remando em um percurso de 70 km, mas hoje sei que consigo. Agora, acredito que qualquer obstáculo pode ser ultrapassado. Basta usar a cabeça e administrar suas forças”, diz. Para ela, a única condição para a prática de esportes radicais é gostar de se desafiar, superar limites, enfrentar os próprios medos. “Morro de medo de altura, mas se tem um rapel de 90 metros na prova, eu encaro. Gosto de sentir o coração bater mais forte, a respiração ofegante”, diz.

Esse também é o lema da aposentada, mãe de dois filhos e avó Aurora Noeli dos Santos, que, do alto dos seus 60 anos de idade, foi fazer o que sempre sonhou: conhecer o Brasil… pedalando! “Adoro viver novas experiências e posso dizer que sou uma vovó nada convencional! Vivo a vida intensamente e aproveito cada segundo para curtir a natureza, boas companhias, etc”, garante a aposentada, hoje com 64 anos.

Conhecida como a vovó ciclista gaúcha, dona Aurora rodou 6500 Km de bicicleta pelo litoral brasileiro, do Rio Grande do Sul ao Maranhão. Resistência de dar inveja a muita gente jovem por aí e que dona Aurora ganhou com muito treino especial, é claro! “Agora sou ainda mais radical! Acabei de fazer o meu primeiro rapel, de 90 metros de altura, na Serra da Bodoquena – MS”, diverte-se a aposentada.

Ela também já voou de asa-delta e faz caminhadas todos os dias pela manhã. Medo? “Não conheço essa palavra! O esporte só me faz bem física e mentalmente”, garante. Haja fôlego, alegria, bom humor e determinação! Preparada você também para uma aventura e para uma vida muito mais feliz e saudável?