Glúten: perigo natural

por | jun 30, 2016 | Alimentação

Contém glúten. Você, com certeza, já deve ter lido esta frase em alguma embalagem de alimento. E, seguramente, muitas vezes já se perguntou o que é esse tal de glúten e porque os pacotes possuem este aviso em destaque perto das informações nutricionais. O Bolsa de Mulher foi atrás desta questão para tirar todas as suas dúvidas e, principalmente, para fazer um alerta para sua saúde.

Glúten nada mais é que uma proteína encontrada no trigo, cevada, aveia e centeio. Como estes cereais são ingredientes de vários alimentos, é fácil constatar que vivemos cercados de glúten. Mas, se é algo natural, por que tanta preocupação com ele? Simples. Algumas pessoas têm alergia à substância. São os portadores de doença celíaca.

Alerta

Não é à toa que o aviso se contém ou não glúten é obrigatório na embalagem dos alimentos. Nos doentes celíacos, o consumo da proteína pode levar a complicações graves. Essas pessoas não conseguem fazer a quebra da proteína, ou seja, não conseguem digeri-la. O glúten altera as vilosidades do intestino delgado, parte do corpo responsável pela absorção dos alimentos que nós consumimos. As vilosidades diminuem de tamanho, tornando-se achatadas. Com isso, diminui a possibilidade de absorção de nutrientes. “Se o doente celíaco abusa do consumo de glúten, o intestino fica plano e não absorve os nutrientes. Isso causa desnutrição e, em casos graves, pode levar à morte”, alerta a nutricionista Luciana Ayer.

Atenção aos pequenos

A doença celíaca é genética e identificada geralmente nos primeiros anos de vida das crianças, quando a alimentação começa a variar com a introdução de papinhas, sopas e biscoitos. Combinações perigosas, que podem levar à diarréia crônica, gases, distenção abdominal, emagrecimento e falta de apetite. “Neste caso, não há jeito. A pessoa tem que abolir o glúten da vida dela. Não existe tratamento para isso”, informa Elizabeth Ayoub, nutróloga e terapeuta ortomolecular. Se não for feita a dieta adequada, a pessoa pode desenvolver futuramente câncer do intestino, anemia, osteoporose, assim como ter abortos de repetição e ficar estéril.

Tratando do assunto

Uma busca rápida pela internet, por exemplo, leva a mais de 350 mil páginas que falam da doença. Existem ainda várias associações nacionais e internacionais formadas para discutir e compartilhar questões a respeito da doença e do tratamento. O grande problema é encontrar alimentos que não possuam aveia, centeio, cevada e, principalmente, o trigo. Os doentes celíacos, além de controlar a alimentação, ainda se vêem às voltas com a procura pelos produtos, bem caros no mercado brasileiro.

Todos correm riscos

Porém, não pense que você está livre de problemas relacionados ao glúten só porque não desenvolveu a doença celíaca. A exposição permanente à proteína pode provocar intolerância. “Quando você se expõe em excesso a qualquer tipo de alimento, pode desenvolver intolerância a ele. O segredo de qualquer alimentação saudável é não repetir”, revela Dra. Elizabeth. E ela alerta para um mal comum ao brasileiro. “Essa coisa de comer um pãozinho com queijo e tomar leite é muito prejudicial, pois se repete todos os dias e as pessoas nem percebem”.

Os sintomas são fáceis de serem notados, mas geralmente as pessoas não os associam a distúrbios alimentares nem intestinais por pura falta de conhecimento. A nutricionista Luciana Ayer alerta para que as pessoas fiquem atentas às azias, gases, distenção abdominal, prisão de ventre e/ou fezes despedaçadas e disformes, dor articular, fadiga, dor de cabeça e cansaço excessivo. “O glúten tem uma relação muito grande com o cérebro. Às vezes, o pensamento pode não ficar muito claro. É preciso que o paciente fique alerta a esses problemas e comece a fazer uma relação com o tipo de alimentação que vem tendo”, orienta a nutricionista.

Tratamento

Dra. Elizabeth vai além. Segundo a médica, em casos mais complexos de alergia ao glúten, as pessoas podem apresentar quadros semelhantes à esquizofrenia. “O glúten age como uma droga nessas pessoas”. A proteína pode também agravar os problemas de autistas e levar a dermatites. “Surgem eczemas e bolinhas, que se espalham nos braços e nas pernas”, complementa. Para tratar os intolerantes, ela sugere fazer um teste com a alimentação. Excluem-se completamente da dieta os alimentos que contêm glúten por oito semanas. Após esse período, introduz-se a proteína a cada quatro dias para verificar como o organismo reage. Dependendo do caso, a exclusão do glúten pode levar mais tempo. “Na terapia ortomolecular, nós acrescentamos ao tratamento cápsulas de papaína para degradar este peptídeo”, afirma a médica.

Quem não tem problemas com glúten, mas quer parar de consumi-lo, terá muitos benefícios. O emagrecimento é um deles. E, claro, terá hábitos mais saudáveis. “O trigo refinado, que nós tanto adoramos e consumimos, nada mais é que a farinha sem os minerais e as vitaminas. Depois do processo de refino, a única coisa que sobra é amido e glúten. Por isso, as pessoas se intoxicam: ingerem só este tipo de nutriente. Nossa alimentação é um conjunto de coisas tóxicas que o organismo precisa dar conta. O problema é que muitas vezes ele não dá”, finaliza a nutricionista.

Para saber mais:

Acelbra (Associação dos Celíacos do Brasil)
www.acelbra.org.br

Rio Sem Glúten
www.riosemgluten.com

Universidade de Brasília
http://www.unb.br/fm/celiacos/