Por Dr. Flávio Magalhães
Dormir é uma necessidade básica da vida, tão fundamental para a saúde como o ar, a comida e a água. Dormir bem faz com que as pessoas acordem restauradas e alertas, prontas para enfrentar o dia. Quando isto não ocorre, diversos aspectos da vida podem ser afetados. Um sono saudável admite que você durma e acorde sempre no mesmo horário. Algumas pessoas, no entanto, dormem pouco durante a semana toda e acham que vão recuperar o sono acordando tarde nos fins-de-semana. Esse hábito é prejudicial à saúde.
O nosso cérebro está programado para dormir de 12 a 14 horas por dia. A origem dele data de 30 mil anos quando surgiu o homo-sapiens e a luz de tungstênio tem menos de 100 anos. Junto com a luz, surgiu o rádio, a televisão e a Internet, que são grandes ladrões de sono. O que a gente vê é a civilização moderna tirar um número enorme de horas de sono. Na maior parte do tempo da nossa existência, a humanidade dormia quando a luz natural ia embora e acordava quando a luz aparecia. Então, nós temos um ritmo biológico que obedece à luz do sol e à noite. Cada um se adapta à forma que acha melhor, cada um tem seu relógio biológico mas todos nós somos devedores de horas de sono. Hoje é moderno estar 24 horas online, então as pessoas estão dispostas a alterar o seu horário normal de dormir pela vida moderna. Isso cria indivíduos que têm problema de dormir, é uma calamidade.
Os distúrbios do sono são a apnéia, as insônias, as narcolepsias (irresistíveis ataques de sono diurnos), bruxismo, terror noturno, sonambulismo e outras alterações. Oitenta por cento das pessoas que procuram o laboratório do sono o fazem por causa de ronco e apnéia. As mulheres têm mais queixa de insônia que os homens, e os velhos, independente da faixa de sexo, têm mais problema de dormir que o jovem. Atualmente, estão tentando divulgar os distúrbios respiratórios do sono para criar um alerta porque eles estão relacionados com algumas doenças como a hipertensão arterial, a própria sonolência excessiva diurna que está acompanhada de um baixo desempenho social e ocupacional, operações relacionadas a libido, uma maior incidência de acidentes ocupacionais e automobilísticos.
O fracionamento do sono que não é detectado, que o indivíduo não tem consciência que o sono dele é fracionado dezenas e centenas de vezes por causa do sono e da apnéia, ele impede que a arquitetura do sono seja normal. Então, no dia seguinte ele acorda cansado, fatigado e tem uma desagregação social, psíquica e ocupacional e alterações físicas como maior incidência de hipertensão, derrame cerebral, enfarto além da morte súbita noturna
A insônia não é uma doença. É um sintoma de que alguma coisa não está indo bem por causa disso e você tem que identificar qual é o tipo. Existem basicamente dois tipos, o indivíduo que tem dificuldade de iniciar o sono e o que inicia bem, mas tem dificuldade de manter o sono. Então, as causas e as técnicas para tentar solucionar esse problema partem para identificar o tipo de insônia e adotar técnicas para melhorar a higiene do sono. Medicamentos para induzir o sono nunca devem ser tomados cronicamente pois pioram a qualidade do sono. Admite-se no máximo três a quatro semanas de um indutor do sono.
A gente terminou o milênio aceitando que uma boa qualidade de vida e uma boa longevidade estaria relacionada a exercícios físicos regulares e uma dieta saudável. Eu acho que uma boa noite de sono vai representar o terceiro alicerce nesse milênio que está começando. A gente passa 1/3 da vida dormindo e a gente precisa agora, com surgimento de formas de detectar a qualidade do sono, corrigi-las para que isso seja alcançado.
O laboratório de sono é o local onde se admite que possam ser alterações relacionadas à qualidade do sono. Então, basicamente, é um local onde se realizam testes diurnos relacionados a múltiplas latências do sono, eletro encefalografia de longa duração, vídeo monitorarização e polissonografia noturna, que é um exame realizado durante a noite onde o paciente dorme sem qualquer indução do sono. As indicações mais freqüentes para o exame noturno são a apnéia do sono, alguns casos de insônia e epilepsias noturnas. Há no país 120 leitos estudando o sono. A maior concentração deles está na cidade de São Paulo, inclusive há instituições públicas realizando esse tipo de exame como por exemplo, a Escola Paulista de Medicina da USP. Das instituições privadas paulistas, destaco o Hospital Sírio Libanês, a Beneficência Portuguesa e o Hospital Albert Einstein. Há laboratórios também em cidades como Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Vitória, Salvador, Recife, Florianópolis, Brasília e Santa Maria.
Flávio Magalhães é médico do Laboratório do Sono do Barrashopping – tel: 430-9234