Assim como dietas radicais, treinos extremos como Crossfit e HIIT são mitos, diz treinador

Fazer exercícios tem que ser gostoso ou extenuante a ponto de te fazer vomitar; desmaiar; se machucar? Apesar de a resposta parecer óbvia, a quantidade de pessoas procurando por treinamentos extremistas é enorme.

Para Nuno Cobra Jr., coach em qualidade de vida e treinamento integral, tudo isso é resultado de um marketing intenso e contraria todas as premissas de exercício físico saudável. Com um “método artesanal” de treinamento, como ele mesmo gosta de chamar, ele prega uma atitude oposta às loucuras feitas em busca do “corpo perfeito”, se é que isso existe.

O método foi criado por seu pai, Nuno Cobra (preparador físico que ficou conhecido, em especial, por ter trabalhado com atletas como Ayrton Senna) em 1956. O que Nuno Júnior fez foi, basicamente, dar sua própria cara a tudo que o pai ensinou. Surgiu, então, o “treinamento integral”, uma forma de fazer exercícios não apenas diferente dos treinos de alta intensidade que estão na moda, mas também contrário a todos eles.

Treinos milagrosos e o mito marketeiro

“Eu fui estudar o relatório das estatísticas da IHRSA [Internacional Health and SportClub Association – associação que reúne as academias de todo o mundo], e a principal motivação para a desistência do aluno é a falta de resultado rápido”, conta Nuno sobre por que muitas pessoas deixam de frequentar a academia.

Para o coach, o crescimento dos métodos que prometem resultados rápidos, como HIIT e Crossfit, é uma resposta mercadológica para tentar solucionar a saída dos alunos das academias. O problema é que essa estratégia não leva em conta os aspectos relacionados à saúde.

“A indústria está correndo atrás do próprio rabo”, diz. “Quando falamos de um organismo vivo, nada é instantâneo, o corpo não segue a lógica do mercado. Não existe semente que vire árvore no dia seguinte ao plantio”.

E seus perigos 

Nuno explica que várias questões relacionadas à ciência do esporte não estão sendo contempladas nos “treinos fast-food”, como ele os chama.

Como exemplo, ele cita a teoria da supercompensação: “O ponto ótimo do treinamento é treinar um pouco acima do que você está acostumado, permitindo que o corpo compense esse esforço e suba de nível. Quando você treina muito acima da sua capacidade, o corpo não consegue realizar a compensação”, explica.

A principal consequência é o alto risco de lesões, decorrente da carga muito pesada imposta a músculos, ossos e articulações que não estão preparados para tal. A ausência de prazer ao realizar esses treinos excessivamente extenuantes, somada às grandes chances de se machucar, tornaria a prática por tempo prolongado praticamente impossível.

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“O ser humano, quando vive uma experiência agradável, quer repeti-la, mas, quando a vivência é desagradável, ele vai fugir da atividade física. O treino não é humanizado e nem sustentável. Nem um boi de rodeio sofre tanto. Como é possível desenvolver prazer se é algo tão sofrido?”, considera Nuno.

Para o coach, os treinos rápidos fazem parte de um modelo já caduco que segue a lógica das dietas radicais, nas quais, segundo dados, 95% das pessoas falham. “As pessoas se iludem, é preciso de tempo para conseguir um resultado mais forte”.

Alternativas

A melhor resposta a toda essa lógica insana de treinamento, segundo Nuno, seria desenvolver prazer fazendo uma atividade física. E não precisa ser só o treinamento integral, desenvolvido por ele: pode ser também o surfe, a natação, a dança, o futebol. A única regra é fazer algo que faça você se sentir bem.

Treinamento integral 

“A metodologia que meu pai criou em 1956 tem a preocupação de abranger alimentação e os aspectos emocional e psicológico”, conta Nuno. “Ele era muito curioso e passou a pesquisar outras linhas além da educação física, como a sociologia, a fim de ter uma visão mais abrangente do ser humano”.

“Integral é como eu chamo agora, que é mais pessoal”, diz Nuno, que se considera um discípulo do pai, com quem trabalha há 32 anos. “É uma linha natural de treinamento, com sua própria identidade”.

Uma das principais premissas é justamente que as “pessoas comuns” façam treinamentos propostos a atletas: que fogem das modinhas e prezam pelos resultados a médio e longo prazo.

A ideia é trabalhar o próprio corpo não apenas com objetivo estético, mas para que seja também um estímulo cognitivo, ao equilíbrio e à coordenação, além de incluir a meditação ativa e ser uma brincadeira. A pergunta “vamos brincar?” toma o lugar do “vamos treinar?”.

Ficar forte ou magro é um efeito colateral que, segundo Nuno, vem de maneira permanente e, às vezes, até mais rápida do que com os “treinos fast-food”. “O mais importante não é quantas calorias o exercício gasta, é você gostar de fazer. Você vai curtir e vai criar uma rotina que poderá fazer para o resto da vida, e porque você gosta, não porque é obrigado”.

Nuno oferece seus treinos em parques e nas casas das pessoas, na cidade de São Paulo, individualmente ou para pequenos grupos. Os exercícios envolvem um conhecimento do próprio corpo e portanto, muitos das práticas envolvem apenas o próprio peso. 

https://www.youtube.com/watch?v=6WHeA6LvMwg

Exercícios fazem bem para a saúde