Asma: perigo no ar

por | jun 30, 2016 | Alimentação

O inverno é mesmo a estação das doenças respiratórias. Não é à toa que, em dias frios, pioram os casos de doenças como rinite alérgica, bronquite e asma. Esta última, por sinal, é a que mais coleciona vítimas em todo o mundo: estima-se que mais de 100 milhões de pessoas sofram com essa inflamação crônica das vias respiratórias, que não tem cura, pode ficar cada vez mais grave e até matar. A asma pode aparecer em qualquer idade, porém é mais comum na infância: estudos mostram que entre 50 a 80% das crianças com asma manifestam os sintomas antes dos cinco anos de idade. Por estarem sempre sob o risco de apresentar crises, os asmáticos têm sua qualidade de vida muitas vezes prejudicada. A boa notícia é que, apesar de não ter cura, a doença pode ser controlada. Com tratamento adequado e mudanças no ambiente, é possível, sim, ter uma vida normal.

O que é

Nossas vias aéreas – os brônquios e os bronquíolos – são responsáveis pelo transporte de oxigênio para as células do organismo e de gás carbônico das células para fora do corpo. Quando estão sadias, elas trabalham perfeitamente. Porém, em quem sofre de asma, essas vias estão constantemente inflamadas – com aspecto avermelhado e inchado – e extremamente sensíveis a determinadas substâncias que podem ser inaladas, como poeira, ácaro, poluição, pólen de flor e fumaça de cigarro, por exemplo. Durante as crises, os músculos que revestem as vias aéreas se contraem e ficam rígidos, estreitando a passagem de ar para os pulmões. Com essa dificuldade, elas podem ficar ainda mais inflamadas e entupidas com muco. Tentando respirar, a pessoa pode sentir, além da falta de ar, chiado no peito e pressão no tórax.

A gravidade da doença pode variar de pessoa para pessoa. Umas começam a ter crises lentamente, tendo dificuldade gradual para respirar, enquanto outras podem apresentar sintomas graves já no início. “A asma pode se apresentar de várias formas, pois com o tempo as pessoas tendem a ajustar essa limitação à sua condição de vida. Assim, aquele menino jovem, sem queixas quanto a sintomas respiratórios, salvo uma leve rinite, e que diz não gostar de atividade física, pode estar na verdade adaptado à sua condição. Porém, quando avaliado por um especialista, irá apresentar sinais característicos”, alerta o pneumologista Gustavo Nobre, chefe do CTI da Casa de Saúde São José, no Rio de Janeiro.

Na infância

Nas crianças, os fatores associados à asma são alergia, histórico familiar de asma e até mesmo exposição à fumaça de cigarro. Aliás, esta parece ser a pior inimiga da saúde respiratória da garotada: a exposição das crianças ao cigarro – principalmente se um dos pais é fumante – aumenta os riscos de que elas venham a apresentar ou agravar a doença. A predisposição genética também é um fator importante: quem tem pais com asma também pode vir a ter hipersensibilidade a alérgenos, desenvolvendo a doença. Os sinais e sintomas principais são falta de ar, cansaço, indisposição, tosse seca e chiado no peito.

Frio, um inimigo

Mas o que é que o inverno tem a ver com asma? “Nessa época do ano existe a tendência a usarmos roupas de materiais que acumulam poeira, usualmente não-higienizadas ou guardadas há muito tempo. Também são mais comuns as reuniões com grande número de pessoas em ambientes fechados e malventilados”, esclarece o médico Marcelo Kalischztein, também pneumologista e chefe do CTI da Casa de Saúde São José. Ou seja: o contato maior com alérgenos nos dias frios fazem aumentar ainda mais as chances de haver crises.

Diagnóstico

A descoberta da doença pode ser feita não só por meio da avaliação dos sintomas e do histórico familiar, como também através de testes cutâneos, com a aplicação sobre a pele de agentes causadores de alergias – como pólen, fungos e pêlo de animais, por exemplo. Pode ser feito, também, um raio X do tórax, para analisar o estado dos pulmões e a presença de infecções e tumores. É o médico quem vai decidir qual a melhor forma de avaliar o problema.

Tratamento

Segundo o pneumologista Gustavo Nobre, a batalha contra a asma tem dois pilares principais. O primeiro é o educativo, que se resume ao conhecimento do problema do paciente. “É preciso estabelecer uma abordagem multidisciplinar e eficaz, que diz respeito ao controle ambiental em casa e no trabalho. Isso quer dizer que a pessoa tem de aprender a evitar situações que causem a crise de asma, fazendo algumas modificações no ambiente. Ela também precisa praticar atividades físicas regularmente e não deve fumar”, diz o médico.

O segundo é o tratamento com remédios específicos. Para acabar na hora com a crise, existem as medicações de alívio, que são inalatórias de curta duração e anticolinérgicas. Elas dilatam rapidamente as vias respiratórias e aliviam a constrição dos brônquios e os sintomas, como a tosse, o chiado e a pressão no peito. Já os remédios de controle, como antiinflamatórios e broncodilatadores de longa ação, devem ser tomados diariamente, como forma de prevenção. “Cabe ao médico identificar as causas das crises, rever diagnósticos que podem se manifestar de forma semelhante e definir uma linha de terapia. O objetivo é não só controlar a doença, mas também diminuir a freqüência das crises”, ressalta o Dr. Gustavo.

Por ser uma doença potencialmente fatal, a asma deve ser acompanhada e tratada o tempo todo, mesmo quando o paciente esteja se sentindo bem. De acordo com o Dr. Marcelo Kalischztein, nunca se deve levar a doença na brincadeira. “É importantíssimo para um paciente asmático o acompanhamento médico regular, discutir com o médico os fatores que desencadeiam com mais freqüência as crises, o que fazer em caso de viagem e, o mais importante, contatá-lo sempre que houver uma crise”, alerta.