Alimentação na gravidez

por | jun 30, 2016 | Alimentação

O período de nove meses de gestação é uma das curvas da vida em que, se a pessoa se descuida, pode semear uma tendência de engordar difícil de ser revertida depois!

O corpo humano mantém seus estoques de gorduras na dependência de um ajuste muito fino entre os processos biológicos de fabricação e de queima desse tecido, os quais se alternam entre as refeições. Nos momentos do dia, em que os níveis sanguíneos de um hormônio fabricado pelo pâncreas, chamado Insulina, estão elevados, a energia oriunda dos alimentos ingeridos e que não esteja sendo utilizada de imediato será destinada a fabricação de gorduras, uma forma bastante inteligente e econômica de armazenar combustíveis.

Se sofreu, ainda dentro do útero, uma sobrecarga pancreática a criança tende a nascer já gordinha e com a chamada fome estimulativa

Num quilo seco de gordura (sem água), a pessoa estoca cerca de 9000 calorias de energia. Em contrapartida, se a opção fosse estocar essa mesma energia sob a forma de glicose (molécula oriunda da ingestão de carboidratos), um quilo da mesma reteria dois litros de água (pesando três quilos no final) e estocaria apenas 4000 calorias. Assim, a transformação de qualquer caloria excedente em gordura é um processo biológico necessário e até inevitável.

Numa pessoa metabolicamente equilibrada os níveis de insulina do sangue sobem logo após a refeição, e voltam a níveis mais baixos cerca de duas horas depois. Assim, que essa queda ocorre a situação metabólica de estocagem de combustíveis se inverte e a pessoa se torna queimadora de gorduras. Magro é aquele que consegue, num determinado espaço de tempo, fabricar e queimar gorduras de forma equilibrada!

Pois bem, se ao longo da gestação ocorre uma perda de controle alimentar, no sentido da ingestão exagerada e freqüente de carboidratos de toda ordem (arroz, feijão, batata, aipim, milho, farofa, massas, biscoitos, doces, sorvetes, refrigerantes, chocolates entre outros) vai haver uma sobrecarga do eixo de produção e liberação de Insulina. E, diante de uma produção excessiva, esse hormônio tem o tempo de circulação no sangue prolongado, além das duas horas ideais após cada refeição. Com isso, vai se estabelecendo progressivamente uma dificuldade de manter a balança metabólica equilibrada, pois mesmo com uma fabricação potencialmente normal, a queima diminui levando a pessoa a engordar.

Esse hiper-insulinismo se apresenta clinicamente não só com um ganho de peso desproporcional e indesejável ao longo da gestação, como também com o nascimento de crianças grandes, pesadas e famintas desde os primeiros dias de vida. As chamadas hipoglicemias fetais, comuns apos o nascimento desses superbebês , são nada mais nada menos do que uma reação biológica ao excesso de insulina secretado pelo pâncreas hipertrofiado de uma criança recém-nascida, que foi submetida, em sua vida intra-uterina, a freqüentes variações de glicemia em função de um esquema alimentar materno com excesso de carboidrato!

Sabe-se que, nos primeiros seis meses de gestação, não é de bom alvitre estressar o feto com privações calóricas em tentativas desesperadas de emagrecer. Nesse período da gestação, o que se recomenda é adotar uma política alimentar de bom senso, em que o consumo de carboidratos de absorção rápida (alto índice glicêmico), como os açúcares, os amidos de trigo (massas), sucos de frutas muito concentrados, chocolates, seja evitado ao máximo. Com isso, logra-se manter controle sobre o eixo de produção de insulina, evitando desencadear a situação descrita. Baseado nesse tipo de observação, pode-se afirmar que a gênese da obesidade infantil pode estar exatamente na maneira como a mãe se alimentou especialmente no ultimo trimestre da gestação. Se sofreu, ainda dentro do útero, uma sobrecarga pancreática a criança tende a nascer já gordinha e com a chamada fome estimulativa. Ou seja, mama, aumenta sua glicemia, recebe descargas exageradas de insulina, sofre quedas exageradas de glicemia, tem mais fome e o círculo vicioso se fecha.

Por isso os cuidados alimentares ao longo da gravidez devem ser extremos, pois o que ali está em jogo não é só a saúde e forma física futura da mãe, mas a da criança e toda sua perspectiva de vida num mundo em que a beleza estética cada vez fala mais alto e em idades cada vez mais tenras.