Levantamento da PROTESTE apontou álcool no pão de forma em níveis acima do limite para itens não-alcoólicos
Recentemente, a Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (PROTESTE) divulgou dados curiosos sobre pães de forma. Segundo um estudo conduzido pelo órgão, o pão de forma disponibilizado por diversas marcas no Brasil tem álcool – e, em alguns casos, a quantidade presente no alimento ultrapassa o limite imposto pela Lei Seca.
Mas, afinal, por que pão de forma tem álcool e o que dizem as marcas sobre o assunto? Entenda melhor a situação abaixo:
Álcool no pão de forma: estudo aponta substância no alimento
Elaborado e divulgado pela PROTESTE, um estudo recente apontou que alguns dos pães de forma disponíveis nas prateleiras dos supermercados brasileiros contêm álcool. De acordo com a associação, o estudo examinou diferentes lotes de cada uma das dez marcas de pão de forma analisadas e obteve resultados surpreendentes.
Quais pães de forma contêm álcool?
Das dez marcas, apenas quatro apresentaram teores de etanol abaixo de 0.5%, concentração limite para que um alimento ou produto seja considerado alcoólico. Já os pães das demais marcas, incluindo Bauducco, Panco, Visconti e Wickbold, foram apontados pelo estudo como produtos com teor alcoólico acima do limite.
O “teor alcoólico” dos pães, segundo o estudo, foi o seguinte:
- Visconti: 3.37% (acima do limite);
- Bauducco: 1.17% (acima do limite);
- Wickbold 5 zeros: 0.89% (acima do limite);
- Wickbold Sem Glúten: 0.66% (acima do limite);
- Wickbold Leve: 0.52% (acima do limite);
- Panco: 0.51% (acima do limite);
- Seven Boys: 0.50% (dentro do limite);
- Wickbold: 0.35% (dentro do limite);
- Pullman: 0.05% (dentro do limite).
Bafômetro e o pão de forma
Ainda segundo o estudo em questão, três marcas poderiam colocar motoristas em apuro. Isso porque, nelas, o teor alcoólico do alimento em apenas duas fatias bastaria para ultrapassar o limite estipulado pelo aparelho. Seriam elas, de acordo com a PROTESTE: Visconti, Bauducco e Wickbold 5 zeros.
Os pães Wickbold Sem Glúten, Panco, Wickbold Leve, Seven Boys, Wickbold, Plusvita e Pullman foram apontados como seguros nesse quesito.
Diante das informações, o Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran-GO) testou dois pães de forma diferentes. No teste, uma pessoa consumiu duas fatias de pão de forma Visconti e soprou o bafômetro, que acusou 0.12 mg/L. Já a pessoa que consumiu duas fatias de pão Pullman não apresentou resultados no bafômetro.
O órgão explicou que três minutos após a testagem inicial, a pessoa que consumiu o alimento da Visconti não apresentou mais teor alcoólico no organismo. Isso porque, na ingestão dos pães, o álcool não iria para os pulmões e, sendo assim, é logo liberado pelo organismo. Assista ao vídeo do teste clicando aqui.
No teste do bafômetro, a quantidade indicada não pode ultrapassar 0.04 mg/L. Resultados 0.05 mg/L e 0.33 mg/L constituem infração gravíssima, enquanto um resultado igual ou acima dessa quantidade constitui crime de trânsito.
Por que tem álcool no pão de forma?
No processo de fabricação dos pães, o alimento fermenta – mas, segundo a PROTESTE, o álcool encontrado neles não vem desse processo. De acordo com o órgão, o responsável pela presença de álcool no pão de forma é a técnica usada para a conservação do alimento.
“O pão é um alimento extremamente perecível. Para evitar o mofo e garantir que o pão chegue até nossas casas intacto, a indústria usa conservantes diluídos em álcool e borrifados no produto antes de embalar. Quando essas aplicações são exageradas, o pão fica com um teor de etanol muito elevado”, afirma o estudo
O que dizem as marcas
Diante da repercussão do estudo, algumas das marcas citadas se pronunciaram sobre a descoberta:
Pronunciamento da Wickbold sobre álcool em pães
A Wickbold disponibilizou no site da marca sua resposta à acusação de que alguns de seus pães teriam mais álcool do que o permitido para um alimento não-alcoólico. Veja a nota na íntegra abaixo:
“O Grupo Wickbold, que detém a marca de mesmo nome e a Seven Boys, reforça que todas as receitas de produtos, assim como todas as áreas da empresa, seguem protocolos de segurança e qualidade, com o mais alto teor de controle, bem como cumpre toda a legislação vigente, dentro dos parâmetros impostos pelas normas estabelecidas. Como a fabricante não foi notificada sobre o referido estudo e a metodologia utilizada, não é possível qualquer esclarecimento. Contudo, compartilha da mesma posição da associação do setor (segue abaixo), que está juntamente com os demais fabricantes se empenhando para esclarecer os fatos”.
Além disso, a marca também questionou o método utilizado no estudo e pediu mais esclarecimento à PROTESTE. Segundo a empresa, alguns dados poderiam estar distorcidos e pedem mais análises comparativas para a elaboração das informações apresentadas pelo estudo.
Pronunciamento da Panco sobre álcool em pães
“A Panco é uma empresa com mais de 70 anos de presença no mercado brasileiro e que sempre teve sua atuação pautada pela conduta ética e compromisso com a qualidade de seus produtos, bem como com a saúde e segurança de todos os seus públicos. A companhia atesta a adoção de práticas totalmente alinhadas aos mais rigorosos padrões de mercado e o cumprimento de todas as normas e legislações específicas vigentes para a produção de alimentos. Para assegurar esses padrões, a companhia possui rígidos controles de qualidade (internos e envolvendo fornecedores externos), além de estabelecer mecanismos criteriosos de homologação de seus fornecedores de matérias-primas.
A respeito do estudo da Proteste, a Panco informa que não foi notificada em nenhum momento pela responsável pelo levantamento, desconhecendo, portanto, a totalidade dos métodos empregados. A Panco mais uma vez esclarece que não utiliza etanol na fabricação do pão, mas que ele pode resultar do processo de fermentação, sendo que os resíduos não intencionais são aceitos pelas normas e legislações vigentes. A empresa reitera o seu compromisso com a qualidade de seus produtos e está empenhada em realizar análises complementares para entender os pontos levantados e avaliar a necessidade de eventuais adaptações em seus processos. A Panco também esclarece que seus produtos chegam, nas grandes lojas, até no máximo 48 horas depois de produzidos, garantindo a maciez, frescor e sabor que os consumidores merecem“
Tá Saudável buscou contato com as demais marcas apontadas como fora dos limites de álcool nos pães, Visconti e Bauducco. Até a publicação desta reportagem, não houve manifestação das empresas.
Em seu site oficial, a PROTESTE prestou esclarecimentos sobre o estudo, e afirmou ainda que pretende enviar os resultados dele ao Ministério da Agricultura e à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).