A dieta do cérebro > Entrevista – Alan C. Logan

por | jun 30, 2016 | Alimentação

O médico pesquisador da Universidade de Harvard, Alan C. Logan, autor do livro “The Brain Diet” explicou, em entrevista ao Bolsa de Mulher, a relação entre o cérebro e alimentação. Segundo ele, o Omega 3, encontrado principalmente nos peixes, é de fundamental importância para o bom funcionamento cerebral. O médico afirma que a dieta brasileira é muito boa para o órgão, mas alerta para o excesso de consumo de comidas tipo fast-food. “Infelizmente a alimentação está mudando, principalmente entre os jovens. O numero de obesos está aumentando”, avisa.

Bolsa de Mulher: Quais são os principais problemas da nossa dieta atual?
Alan C. Logan: Está ficando incrivelmente claro que a típica dieta ocidental, com suas lacunas e seus excessos nutricionais compromete a saúde do cérebro. Afundados pela abundância da conveniência, das altas taxas calóricas, das comidas processadas, viramos as costas para as dietas ricas em fibras, vitaminas e minerais, antioxidantes e fitonutrientes (componentes que dão às plantas cor e textura). Apenas cinco alimentos (tomates em conserva, cebolas, legumes e batatas congeladas) compõem a alarmante taxa de 50% da nossa ingestão vegetal. Apenas 3,5% dos alimentos que consumimos são ricos em fibras ou grãos. Nós também estamos consumindo apenas 130 miligramas de Omega 3, enquanto os experts internacionais recomendam que sejam 650 miligramas por dia. Consumimos excessivamente gorduras saturadas, derivados de carne animal e produtos com muita gordura hidrogenada, o que nos dá um aporte alto de gorduras trans. Essas gorduras trans promovem estresse oxidativo (geração de radicais livres) e inflamações e alteram a parte neurológica e psicológica.

BM: Como uma dieta errada pode contribuir para o desenvolvimento de doenças neurológicas?
ACL: A dieta com alto índice de açúcar, gorduras saturadas e trans, e comidas processadas é a dieta que promove inflamação e não contribui na proteção contra o estresse oxidativo. Quase todas as condições neurológicas e o envelhecimento do cérebro são associados com esse estresse. Nós precisamos incluir comidas antiinflamatórias e antioxidantes, tais como os peixes, frutos do mar, nozes, as frutas e vegetais coloridos, sementes com fibra e evitar a farinha branca ou sementes processadas.

BM: Quais os nutrientes capazes de alterar nosso metabolismo cerebral?
ACL: Nutrientes e comidas que melhoram o fluxo sangüíneo do cérebro, incluindo as comidas que têm coloração azulada e arroxeada (açaí do Brasil, as frutas vermelhas como amora, framboesa e cereja, batata doce, cenoura, beterraba, repolho roxo) porque eles contêm antioxidantes. O cacau também melhora o fluxo sangüíneo para o cérebro. Ginko biloba e um óleo de peixe que, usado como suplemento, podem melhorar o metabolismo cerebral. Os temperos e ervas culinárias como o gengibre, coentro e salsa fornecem boa parte de antioxidantes que precisamos. O café tem demonstrado proteção contra o Alzheimer e Parkinson, já o chá verde é um grande protetor cerebral e apenas duas xícaras diárias podem diminuir o declínio mental relacionado com a idade em mais de 50%.

As mudanças no humor com o consumo de Ômega 3 têm sido demonstradas com menos de três semanas

BM: Se hoje as pessoas mudarem suas dietas, em quanto tempo podem-se perceber diferenças? Quais, por exemplo?
ACL: Mudando nossa dieta para a dieta do cérebro melhoramos o nosso humor, foco, sono e a nossa sagacidade mental. As mudanças no humor com o consumo de Ômega 3 têm sido demonstradas com menos de três semanas. Para déficit de atenção e distúrbios de aprendizado, três meses. Para outras condições neurológicas, a dieta do cérebro é recomendada como prevenção.

BM: Fale um pouco sobre seu livro. O que de mais interessante você descobriu na sua pesquisa?
ACL: É chocante o número de pesquisas existentes na área de nutrição e do cérebro. Porém, enquanto a maioria das pessoas visa as conexões entre a nutrição e as doenças cardiovasculares e diabetes, a relação dieta-cérebro é ainda subestimada. Talvez a mais interessante conclusão é que a ingestão insuficiente de Ômega 3 está diretamente ligada ao desenvolvimento de depressões. Muitos adultos e crianças podem sair de quadros como esse se os baixos níveis de Omega 3 forem devidamente corrigidos.

BM: As crianças podem seguir este tipo de dieta?
ACL: Certamente! Não há época melhor para aplicar a dieta do cérebro como durante a gravidez, o aleitamento e primeiras fases de infância. Neste momento, o cérebro está rapidamente mudando e as pesquisas demonstram que a nutrição durante este período pode influenciar o curso da vida humana.

BM: E o que dizer da alimentação dos brasileiros? Ela é boa ou ruim para o cérebro?
ACL: A dieta brasileira tradicional é a dieta do cérebro saudável. Os brasileiros consomem grandes quantidades de frutas e vegetais, muito mais do que os americanos, e isso se traduz numa grande proteção oxidante. Infelizmente, a dieta tradicional brasileira está mudando, especialmente entre os jovens. Existe hoje em dia um aumento do consumo de comidas processadas, frituras com altos índices calóricos, refrigerantes, doces e comidas inimigas do cérebro. Isso explica a duplicação da taxa de obesidade entre os brasileiros desde o meio dos anos 70 e o aumento do Alzheimer e Parkinson em indivíduos de meia-idade, além de alterações psicológicas como a depressão. No que me consta, é a diminuição do consumo de peixes e frutos do mar dos brasileiros e o aumento do consumo de carne. É preciso tomar cuidado.