Usados há anos, exames para detectar câncer são, normalmente, localizados – caso, por exemplo, da mamografia para diagnosticar tumores na mama e a colonoscopia para localizar tumores colorretais. Há, no entanto, um novo teste que permite o diagnóstico de diversos tipos de câncer com um simples exame de sangue – e, nos Estados Unidos, ele já está disponível para uso.
Novo exame de sangue para câncer: o que é e por que é inovador
É consenso na comunidade médica que, quanto mais cedo um câncer for detectado, maiores as chances de tratamento tendem a ser, o que também costuma oferecer um prognóstico melhor ao paciente. Há, no entanto, certos tipos de câncer de difícil detecção, que costumam ser diagnosticados apenas quando começam a gerar sintomas, já em estágios avançados. É este cenário que um novo exame de sangue para câncer pretende mudar.
Criado pela Grail, empresa norte-americana de biotecnologia, o chamado “Galleri Test” é uma nova forma de diagnosticar câncer que passou a ser usada recentemente nos Estados Unidos. A ideia, segundo o site oficial do teste, é identificar o câncer com base em rastros de DNA liberados por células cancerígenas uma vez que elas morrem – e, além de detectar a presença da doença, o exame consegue ainda apontar qual órgão ou estrutura é afetado por ela.
De acordo com informações publicadas pela Cleveland Clinic, parceira da empresa criadora do teste, a eficácia dele tende a ser bem maior que a dos exames tradicionais; é estimado, segundo as informações divulgadas, que o exame identifique 51,5% dos cânceres, tenha 89% de precisão ao indicar onde o câncer começou e traga um falso-positivo em apenas 0,5% dos casos em que é usado. Em geral, a taxa de falso-positivo nos exames tradicionais varia entre 10% e 40%.
Outra vantagem, segundo os criadores do teste, é o fato de o exame incluir nas possibilidades de detecção diversos tipos de câncer que, em geral, não causam sintomas até estágios avançados e não costumam ser monitorados, como o câncer de pâncreas, por exemplo. Isso permite, a princípio, que diagnósticos de câncer antes responsáveis por prognósticos muito ruins, com baixas chances de sucesso no tratamento, sejam detectados muito antes.
Tipos de câncer detectados pelo exame
Conforme divulgado pela empresa, o exame é capaz de detectar 50 tipos de câncer. São eles:
- Carcinoma adrenocortical (câncer raro nas glândulas adrenais);
- Tumor da ampola de Vater (câncer na região do duodeno, no intestino);
- Câncer de apêndice;
- Câncer de via biliar;
- Câncer na vesícula biliar;
- Câncer no trato urinário;
- Câncer nos ossos;
- Câncer de mama;
- Câncer cervical;
- Câncer colorretal (diversos tipos, incluindo anal, intestino grosso, etc);
- Tumor estromal gastrointestinal;
- Neoplasia gestacional trofoblástica;
- Câncer nos rins;
- Câncer na laringe;
- Leucemia;
- Câncer no fígado;
- Câncer de pulmão;
- Linfoma (de Hodgkin e não-Hodgkin);
- Melanoma;
- Carcinoma de Merkel (que afeta células responsáveis pelo tato);
- Mesotelioma pleural;
- Câncer na cavidade nasal;
- Câncer de nasofaringe;
- Tumores neuroendócrinos (do apêndice, do reto e do pâncreas);
- Câncer de boca;
- Câncer de orofaringe;
- Câncer de hipofaringe;
- Câncer de ovário;
- Câncer na Trompa de Falópio;
- Carcinomatose peritonial;
- Câncer no pâncreas;
- Câncer no pênis;
- Câncer de próstata;
- Mieloma;
- Sarcoma de partes moles (diversos tipos, incluindo no abdômen, na cabeça, no pescoço, etc);
- Câncer de estômago;
- Câncer de testículo;
- Câncer de útero;
- Câncer vaginal;
- Câncer na vulva.
Quem pode fazer
De acordo com a Grail, o “Galleri Test” é recomendado, a princípio, para adultos que possuem risco elevado de desenvolver câncer, como pessoas com mais de 50 anos de idade. Ele não é, no entanto, indicado para menores de 21 anos, gestantes e pessoas que estão tratando um câncer. A empresa indica que médicos avaliem junto aos pacientes se o teste é ou não uma possibilidade diante do quadro de saúde deles.
Onde está disponível
Por enquanto, o novo exame de sangue para câncer está disponível apenas nos Estados Unidos e não é coberto por planos de saúde (ele deve, por isso, ser requisitado por clínicas e outros prestadores de serviço de saúde diretamente à empresa, sob o custo de US$ 950, cerca de R$ 4,8 mil na cotação atual). Atualmente, porém, o “Galleri Test” está passando por avaliações clínicas no Reino Unido, processo liderado pelo NHS, o sistema público de saúde local. No Brasil, ainda não há previsões de incorporação do teste no sistema público ou privado.
Apesar de animador, teste tem limitações
Ainda que facilite o diagnóstico, a própria empresa desenvolvedora do teste afirma que, neste momento, ele não deve substituir os exames tradicionais (como mamografia, colonoscopia, entre outros). A princípio, ele deve ser usado como uma ferramenta adicional, e seus resultados não devem ser interpretados como confirmação ou ausência de câncer. Os resultados positivos, por exemplo, precisam ser confirmados por exames de imagem.
Além disso, ao site médico “ Medscape Medical News”, o médico Timothy Rebbeck, professor de prevenção ao câncer, afirma que há ainda etapas pela frente para refinar detalhes na eficácia da detecção e caminhos pós-diagnóstico. De maneira geral, há certa preocupação e a crença de que ainda há necessidade de se fazer mais análises para a liberação para o público geral de forma que ele possa ser incluso em níveis básico de diagnóstico de forma segura.
Apesar de identificar dezenas de tipos de câncer, o “Galleri Test” tem uma limitação: funciona apenas para cânceres que liberam material genético na corrente sanguínea. Ele não é capaz, portanto, de diagnosticar cânceres como o cerebral.
Por fim, é preciso frisar que, conforme ressalta a própria empresa desenvolvedora do “Galleri Test”, ele ainda não foi aprovado pela “Food & Drug Administration”, órgão semelhante à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nos Estados Unidos, responsável por regular alimentos, medicamentos, entre outros.