Quando traumas ou doenças nas córneas provocam cegueira, o transplante de córnea tende a ser a única forma de recuperar a visão, mas nem sempre há órgãos disponíveis para suprir esta necessidade. Buscando alternativas, pesquisadores da Universidade de Linköping, na Suécia, em parceria com o instituto LinkoCare Life Sciences, desenvolveram um implante do zero – e tudo usando proteína extraída da pele de porcos.
Córnea feita com colágeno de porcos restaura visão de 20 pacientes
Recentemente, pesquisadores suecos restauraram com sucesso a visão de 20 pacientes que estavam ou cegos, ou à beira da cegueira – e, de forma surpreendente, isso foi feito com um implante semelhante à córnea humana criado com células retiradas da pele de porcos. Os resultados, que foram publicados no periódico científico Nature Biotechnology, mostram que, no futuro, pode ser possível não depender mais da disponibilidade de córneas humanas para realizar transplantes.
Os pacientes em questão, segundo o estudo, tinham ceratocone, doença que altera o formato da córnea de forma a prejudicar a visão. Em casos assim, o transplante de córnea pode ser a solução – e, neste caso, os vinte foram feitos com o implante. Levando em consideração que o colágeno é o principal material da córnea, pesquisadores extraíram então moléculas desta proteína da pele dos animais, e as submeteram a um processo de purificação.
Para chegar ao implante, foi necessário estabilizar as moléculas de colágeno e agregá-las a um material transparente e firme, resistente a manipulação. Por fim, os transplantes foram realizados, a espessura e curvatura das córneas foram restauradas e os pacientes não desenvolveram nenhuma complicação durante os dois anos em que foram acompanhados pela equipe.
Diante dos resultados, os estudiosos se mostraram animados não apenas pelo sucesso do implante, mas pela aparente facilidade em produzi-los e distribuí-los no futuro. Segundo os cientistas, a pele suína é um subproduto da indústria alimentícia e, por isso, é um material economicamente viável para a produção em massa. “Fizemos esforços significativos para garantir que nossa invenção seja amplamente disponível e acessível a todos, e não apenas aos ricos”, disse Mehrdad Rafat, pesquisador e empresário por trás do projeto, em um comunicado à imprensa.
Além de não precisar de uma córnea humana, o procedimento ainda tem outra vantagem: pode ser feito de forma simplificada, sem o uso de pontos e com instrumentos cirúrgicos simples. “O cirurgião não precisa remover o tecido do paciente. Em vez disso, é feita uma pequena incisão através da qual o implante é inserido na córnea existente”, pontuou Neil Lagali, líder do grupo científico, no mesmo comunicado.
Apesar dos resultados animadores, um estudo clínico maior seguido de aprovação de mercado pelas autoridades reguladoras é necessário antes que o implante possa ser utilizado em larga escala por profissionais da saúde. Além disso, os pesquisadores também querem verificar se a tecnologia pode ser usada para tratar mais doenças oculares e se o implante pode ser adaptado ao indivíduo para ter eficácia ainda maior.