Comum em períodos frios e secos, a tosse é um mecanismo de defesa natural do organismo para expulsar corpos estranhos ou mesmo uma consequência de uma irritação nas vias respiratórias. O que muitas pessoas não sabem, é que o reflexo tussígeno pode ter características diferentes dependendo do quadro ao qual está associado.
Apesar de parecer um sintoma simples, as causas da tosse são diversas e podem incluir doenças como alergia, gripe, Covid-19 e até mesmo refluxo. Saiba como diferenciá-las.
Tosse por Covid-19 e gripe
A pneumologista Rosemeri Maurici, membro da comissão de infecções respiratórias da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), esclarece que a tosse relacionada a quadros de gripe e a tosse da Covid-19 costumam ser similares, ambas mais secas.
“O que as diferencia não são as características da tosse em si, mas sim os sinais e sintomas que aparecem associados a essas doenças”, explica. Vale ressaltar que os principais sintomas de gripes comuns costumam ser calafrios, congestão nasal, mal-estar e dores nas articulações, enquanto a Covid-19 é caracterizada pela fadiga, dores de cabeça, mal-estar, dores de garganta e perda de paladar e olfato.
No caso das gripes e contaminação por Covid-19, Rosemeri esclarece que as tosses acontecem devido ao processo inflamatório do próprio organismo, e costumam perdurar enquanto a pessoa manifesta a doença.
“Quando lidamos com infecções virais, temos um desnudamento do epitélio respiratório, localizado na traqueia e por isso mais agressão nesta região. Esse processo expõe os receptores de tosse que são encontrados nesse tecido, tornando o aparelho respiratório mais suscetível ao desenvolvimento de tosse”, explica.
Tosse alérgica
Tosses alérgicas, de acordo com o alergista Adelmir de Souza Machado, membro do Departamento Científico de Asma da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia, costumam ser também secas e surgem acompanhadas de coceiras na garganta e nos olhos. Além disso, elas tendem a piorar à noite, a chamada tosse noturna.
“Essas tosses ficam mais intensas ao anoitecer porque é o momento em que a pessoa se recolhe em um ambiente e se deita. O ato de deitar faz com que as secreções da inflamação sejam drenadas pela faringe gerando ainda mais irritação, e portanto, a piora da tosse”, esclarece Adelmir, frisando que tosses alérgicas podem durar de duas a oito semanas.
No caso das alergias respiratórias, o organismo é “programado” para combatê-las por meio do sistema imunológico. Essas tosses representam uma irritação nas vias aéreas geralmente causada por alguma substância que pode variar entre poeira, penas, pelos de animais, cigarros e até mesmo perfumes.
Quando o corpo entra em contato com algum composto alergênico, os linfócitos B do sistema imunológico iniciam a produção da imunoglobulina para combater um possível agente infeccioso. Essa produção gera inflamações que culminam nos quadros de tosse que tendem a piorar no período da noite.
Vale lembrar, também, que tosses alérgicas estão associadas a doenças como rinite e asma. Elas acontecem por conta das inflamações causadas pelos quadros, e devido ao fato de serem crônicas, podem prolongar os quadros de tosse.
Tosse por refluxo gastroesofágico
Já as tosses associadas a doenças gástricas, como refluxo, costumam ser mais secretivas apenas ao final do episódio, deixando a sensação de pigarro na garganta.
“Ela pode ser confundida com tosses alérgicas por ser seca também, mas ao final ela é um pouco secretiva, então isso pode ajudar a diferenciar”, afirma o gastroenterologista Eduardo Grecco, cirurgião e endoscopista do Instituto EndoVitta.
O especialista explica que o refluxo é o retorno do suco gástrico pelo esôfago gerando inflamações que podem chegar até a região da faringe. Quando o ácido retorna, a pessoa pode aspirar um pouco do conteúdo estomacal, e portanto a tosse serve como mecanismo de defesa para não deixá-lo chegar aos pulmões.
“Tosses relacionadas ao refluxo costumam ser desconfortáveis por conta da intensidade dos episódios. A pessoa tosse bastante, e por fim, fica a sensação de pigarro, como se tivesse uma obstrução no fundo da garganta”, explica.
De acordo com ele, se a tosse não melhorar em questão de quatro dias, o ideal é observar os sintomas associados, como queimação no estômago e arrotos frequentes, e procurar um médico gastrologista para investigar a questão a fundo.
Como prevenir e tratar a tosse?
Com relação a agentes infecciosos e Covid-19, o ideal é manter a higiene lavando sempre as mãos para evitar o contágio, além da limpeza de superfícies bem como os protocolos de isolamento social caso o diagnóstico seja de coronavírus.
“A pessoa que está sintomática, deve usar máscara para evitar o contato com outras pessoas, manter o ambiente ventilado e se manter bem hidratado, com uma boa nutrição, tudo isso favorece a resolução do quadro da tosse ou previne a sua instalação, independente de ser um quadro de gripe mais comum, ou de Covid-19”, recomenda a pneumologista.
Já as tosses alérgicas podem ser prevenidas e tratadas de diversas maneiras.
“Se a fonte da alergia for alguma doença crônica, o ideal é tratar a doença para que o quadro cesse. Agora, se a tosse estiver acontecendo apenas por conta do contato com algum alérgeno potencial, um antialérgico pode ser muito eficaz, basta consultar um médico”, afirma Adelmir, recomendando também a distância de agentes como poeira, poluição e pelos de animais para evitar a manifestação das alergias.
O gastrologista Eduardo Grecco afirma que o refluxo pode ser tratado por meio de uma dieta balanceada com baixa ingestão de gorduras, açúcares e alimentos que podem alterar a acidez estomacal, como café, álcool e chocolate, por exemplo. Além disso, a associação de medicamentos que mantêm a acidez estomacal controlada pode ser um caminho, mas para isso é necessária a realização de exames e consulta médica.
“O tratamento do refluxo vai tratar a tosse pois o ácido gástrico vai deixar de subir até o esôfago, normalizando as vias respiratórias da pessoa”, conclui.
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