No mundo dos aromas

por | jun 30, 2016 | Alimentação

Se você tivesse que colocar visão, paladar, audição, tato e olfato em ordem de importância, o que viria em primeiro lugar na sua lista? O olfato certamente seria deixado para trás por muita gente, sendo considerado apenas um instinto primitivo. Mas, acredite, ele é fundamental para o ser humano. Um cheiro pode trazer inúmeras lembranças, influenciar o nosso humor, nos afastar de ambientes que ofereçam perigo, nos aproximar de pessoas. Os aromas, mesmo sem nos darmos conta, interferem profundamente em nossas emoções, em nossas vidas.

Não acredita? O marketing olfativo, que estuda os cheiros capazes de agradar a maioria, já constatou que a baunilha, por exemplo, é uma essência universalmente aceita. “É comprovado que ela traz sensação de aconchego, de bem-estar, para gente do mundo inteiro”, garante a aromaterapeuta Sâmia Maluf. Isso porque um aroma muito parecido com o da baunilha está presente no leite materno. “Mesmo quem foi amamentado com leite artificial também tem uma queda pelo cheirinho da baunilha, já que os leites industrializados, seguindo o materno, são enriquecidos com tal essência”, explica Sâmia. Uma vez marcado, levamos o cheiro pela vida inteira. “A memória olfativa é muito forte, principalmente nas crianças”, conta a aromaterapeuta.

E quem não tem na lembrança o cheiro da infância, daquela viagem maravilhosa e até mesmo do primeiro amor? Como o centro olfativo é ligado ao sistema límbico cerebral, que controla as nossas emoções, olfato e sentimento são indissociáveis. Por isso, quando sentimos novamente um cheiro que nos marcou, imediatamente nos lembramos da sensação que tivemos na primeira vez em que entramos em contato com ele.

O olfato humano é, no entanto, pouco desenvolvido se comparado ao de outros animais. Por isso, esquecemos que o nariz nos avisa se a comida está estragada, se há algo queimando antes mesmo de vermos a fumaça e por aí vai. Acabamos não percebendo, também, que ele é o sentido mais rico de todos, como explica Carolina Godinho, pesquisadora do Departamento de Química da Universidade de São Paulo e autora do livro “Química das sensações” (Editora Alínea e Átomo): “Somos capazes de enxergar muitas cores, mas elas resultam da combinação gerada por apenas três receptores de cor dos nossos olhos. Já a língua possui quatro receptores de sabor – amargo, azedo, doce, salgado. Por isso, quando estamos gripados, com o nariz entupido, detectamos apenas esses quatro gostos, uma vez que os outros estão diretamente ligados ao olfato. No nariz, por sua vez, temos milhões de receptores”.

O epitélio olfativo, parte amarelada da mucosa do nariz, tem cerca de 20 milhões de receptores para detectar moléculas de odor que chegam através das narinas ou pelo fundo da boca. Portanto, podemos sentir muito mais cheiros do que imaginamos! Não à toa, o olfato funciona como instinto de sobrevivência e de atração sexual do ser humano. Segundo a aromaterapeuta Sâmia Maluf, o cheiro define quem somos e até mesmo se o parceiro é ideal.

E aqui entra, é claro, a questão dos ferormônios. “Selecionamos nosso parceiro pelo cheiro. O que atrai o macho, o homem, é o ferormônio da mulher. Napoleão, por exemplo, enviava mensageiros à França pedindo para a imperatriz não tomar banho. Ele queria sentir o cheiro puro do corpo dela quando chegasse de viagem”, conta Sâmia. A química Carolina Godinho explica: “Cheiro também é algo cultural. Aprendemos a não gostar do odor natural do corpo e, por isso, nos perfumamos. Mas, acredite, se você não gosta do cheiro da pele de alguém, vai acabar se afastando, mesmo que de forma subconsciente. Nosso nariz é muito sensível”. Em outras palavras: se não rolar química, já era.

Sendo o olfato um sentido tão poderoso, não é surpresa que ele também esteja envolvido com a cura de diversos males. Através da aromaterapia, que resgata sensações boas e trata as pessoas através das essências, podemos ficar de corpo e alma renovados. “Para acalmar e garantir uma boa noite de sono, utilizamos essências calmantes como lavanda, camomila e langue-langue. Para trazer energia e alegrar uma pessoa que está triste, deprimida, podemos utilizar essências energizantes como grapefruit, tangerina e bergamota. Já as essências estimulantes são as mais herbais, como hortelã, eucalipto e alecrim”, conta a aromaterapeuta Sâmia Maluf.

Para aliviar os sintomas da TPM, por exemplo, Sâmia recomenda essência de grapefruit ou laranja. “Dão energia, alegria, mas também agem no sistema linfático, melhorando o inchaço”, explica. Ela conta, ainda, que as essências podem ser utilizadas de diferentes formas: podem ser inaladas com soro fisiológico através de um inalador, colocadas em aromatizadores de ambiente, podem ser usadas no banho, seja de banheira ou de chuveiro, e podem, ainda, nos envolver através de uma boa massagem.

Em busca do nosso equilíbrio, é importante, também, aprendermos a apurar o olfato. Para isso, faça um exercício simples: feche os olhos e comece a perceber todas as nuances dos cheiros ao seu redor – se são úmidos ou secos, frescos ou quentes… Além de relaxar, você irá descobrir um mundo de aromas e de sensações!