Câncer de mama: veja como o tratamento evoluiu

Nas últimas décadas muita coisa mudou em relação ao diagnóstico e ao tratamento de câncer de mama. Essas evoluções fizeram com que enfrentar a doença se tornasse uma tarefa menos complicada. “Para enfrentar um inimigo é importante conhecê-lo. Atualmente a doença se tornou mais amplamente conhecida e divulgada, o que facilita seu entendimento e das formas de combatê-la. Não é mais vista como uma sentença de morte, e sim como uma doença que realmente mostra seus obstáculos mas esses não são intransponíveis, ou seja, uma doença potencialmente curável”, afirma o mastologista João Luis de Genova C. Joaquim, do Instituto Radium de Campinas. Segundo ele, as principais inovações foram o aumento da precisão da mamografia, com o advento da técnica de mamografia digital e, mais recentemente, a tomossíntese mamária; a aplicabilidade da Ressonância Nuclear Magnética para diagnóstico de patologias mamárias; e o advento do sistema BI-RADS para padronização mundial no diagnóstico dessas patologias. Veja o que mais mudou nesses últimos anos:

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Autoexame dos seios

Crédito: Shutterstock

“O autoexame teve um período de maior divulgação entre as décadas de 50 a 70. Depois, na década de 80, começou a perder terreno em vista de estudos mostrando a falta de evidência científica. Na última década voltou a ser divulgado, mas não como estratégia de prevenção objetiva ao câncer de mama, e sim como uma forma de fazer a mulher entender e conhecer melhor seu corpo, bem como as mudanças que ocorrem na mama, sejam elas patológicas ou naturais do ciclo menstrual. No período pré-autoexame, a maioria das mortes era considerada “causa natural”, pois pouco se sabia sobre o câncer de mama, bem como seus sinais e sintomas iniciais. O diagnóstico era quase sempre tardio, com tratamentos que apresentavam pouco impacto na mortalidade global. Infelizmente ainda não dispomos de meios para evitar o aparecimento do câncer de mama; cabe, então, aumentarmos os esforços para tratar a doença no estágio mais curável possível enquanto a prevenção não chega. Quanto mais precoce é o diagnóstico, maiores são as chances de o tratamento ser menos agressivo, bem como a virtual possibilidade de uma cura.”

Câncer de mama tem cura?

Crédito: Shutterstock

“A palavra ‘cura’, quando se fala do tratamento de qualquer tipo de câncer, tem aplicação bastante reservada, já que pode haver risco de recorrência mesmo após 20 ou 30 anos. A maioria dos estudos científicos trabalha com ‘sobrevida em cinco anos’, sendo que alguns estudos de mais longo prazo estendem para sobrevida em 10 anos. A sobrevida em cinco anos, nos estádios I e II, chega a 95-98%, no estádio III a 83%, e no estádio IV a 24%, segundo o American National Cancer Institute. Com relação há 10 ou 20 anos atrás, não temos muita comparação, mas ainda hoje estamos vendo os reflexos do aumento ou não da sobrevida de terapêuticas introduzidas há 10, 20 anos quando comparadas com terapêuticas realizadas há 30, 40 anos. Esse é o grande desafio no tratamento do câncer: trazer novas terapêuticas ao mercado que se traduzam em aumento da sobrevida, mas sem que seja necessário um tempo de espera de 30, 40 anos para comprovação de sua eficácia. De uma forma geral, nos últimos 50, 60 anos, com a introdução de novas técnicas cirúrgicas associadas a novas modalidades de tratamento adjuvante como quimio e radioterapia, houve um aumento progressivo não só na sobrevida global das pacientes, como também um aumento da sobrevida livre de doença, refletindo em um aumento da qualidade de vida dessas pacientes.”

Tratamentos

“Os esforços com relação aos tratamentos do câncer de mama se fazem sempre com o escopo de aumentar a eficácia com o mínimo de efeitos colaterais. Apesar da crescente melhora, infelizmente ainda estamos longe deste ideal, com tratamentos realmente efetivos, mas com efeitos colaterais consideráveis. Dois marcos principais abalam o bem estar da mulher: a perda da mama, mesmo quando é realizada reconstrução imediata, e a queda de cabelos ocasionada por algumas drogas quimioterápicas. Isso afeta muito a questão emocional, já que é uma das partes mais cultuadas e cuidadas no âmbito estético feminino. Mesmo que transitória, por algumas pacientes essa perda é considerada pior do que a perda da mama”.

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Cirurgia 

Crédito: Shutterstock

“O tratamento cirúrgico é a base do tratamento do câncer de mama. É a partir dele que é realizado o estadiamento da doença, que definirá quais tratamentos complementares serão realizados, bem como a sobrevida da paciente. A partir da década de 80, com os trabalhos do professor Umberto Veronesi, do Instituto Europeu de Oncologia, iniciou-se a fase de tratamentos cirúrgicos mais conservadores, em detrimento à tendência anterior de técnicas cirúrgicas com abordagens cada vez mais extensas. No início da década de 90, introduziu-se ainda a técnica de biópsia de linfonodo sentinela, em casos determinados, ao invés da tradicional linfadenectomia axilar. No final dos anos 90 e início dos anos 2000, uma nova tendência denominada cirurgia onco-plástica começou ganhar corpo. Consiste na aplicação de técnicas de cirurgia plástica para abordagem terapêutica de casos de câncer de mama, a fim de melhorar os resultados estéticos e o bem-estar da paciente. Antes dos anos 80, a retirada da mama e dos linfonodos axilares era a única opção cirúrgica. A partir dos anos 80 e 90, novas técnicas foram introduzidas, mas não com a intenção de substituir a mastectomia, e sim com o objetivo de ser uma opção para determinados estádios de câncer de mama. A mastectomia também foi acrescida com novas técnicas, como skin-sparing (preservação da pele da mama) e nipple-sparing (preservação da pele e do mamilo). Para cada caso existe uma combinação de possibilidades cirúrgicas que devem ser discutidas em conjunto com a paciente a fim de determinar a melhor modalidade terapêutica.”

Reconstrução mamária

Crédito: Divulgação

“Havendo possibilidade, a prótese de silicone pode ser implantada logo que a mama é retirada, desde que isso não interfira posteriormente nos tratamentos. Há casos em que o implante pode afetar a eficácia da radioterapia; nesses casos, sua inserção deve ser postergada. Com a reconstrução mamária, a perda da mama tem sido minimizada, a despeito do sentimento de mutilação; entretanto, paira um sentimento de alívio com a retirada daquele tecido doente e por vezes a mama reconstruída representa um recomeço, uma nova vida. Os implantes de silicone ajudaram na melhora estética dos resultados pós-operatórios, melhorando a satisfação da paciente. Anteriormente, as reconstruções mamárias eram realizadas exclusivamente com retalhos mio-cutâneos, que ainda hoje são utilizados, mas com menos opções para ima adequada simetria da mama oposta.”

Autoestima

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“Infelizmente este é um fator de difícil reversão, pois a doença afeta diversos aspectos emocionais importantes na vida da mulher. Por mais que as terapêuticas avancem, sempre fica a sombra de uma doença recorrente, que pode ter um retorno silencioso e levar a um fim precoce, destruindo planos conjugais, filiais, profissionais e outros. Mas a abordagem multidisciplicar do câncer de mama já vem sendo realizada de longa data, sendo este o motivo de continuidade terapêutica de várias pacientes. O que vem mudando são abordagens mais específicas, conforme foram ganhando importância no âmbito terapêutico. Isso é de extrema importância para um tratamento adequado das pacientes com câncer de mama.”