Com todo o gás

O carnaval está aí. Todo mundo animado, ouvindo o ziriguidum da cuíca, correndo atrás do trio elétrico, é confete pra lá, serpentina pra cá… Ninguém se esquece do local em que o bloco vai sair, nem do horário que a escola de samba predileta vai desfilar. No entanto, muitas vezes, as pessoas não lembram de cuidar bem da alimentação. Se entopem de besteiras, consomem bebidas energéticas em excesso, e acreditam que assim terão mais fôlego para as folias do Momo. Como o período é de festas, talvez valha tudo, mas é importante saber como recuperar as energias depois dos festejos. Afinal de contas, dizem que o ano só começa mesmo depois do carnaval.

O primeiro passo é ficar de olho na alimentação. “No período do carnaval, é comum que as pessoas apresentem um quadro de hipoglicemia, ou seja, carência de açúcar no sangue. Além disso, é normal perder muita energia porque há um grande esforço físico. Para garantir as forças, uma alimentação à base de frutas, hortaliças, arroz, feijão, batatas e massas são recomendadas, pois garantem uma boa fonte de glicose e carboidratos”, garante a doutora em Nutrição e professora da Unifesp, Anita Sachs.

Nem oito, nem oitenta. Nada de ficar horas na folia e cair dentro de uma feijoada depois. Como o organismo fica meio habituado a não receber alimentos pesados, é prejudicial uma troca tão radical. “Qualquer mudança brusca nos hábitos alimentares não faz bem para o corpo. Portanto, se você não está comendo direito, e, de uma hora para outra aparece uma feijoada, evite-a. Contém muita gordura e, ao invés de dar disposição para continuar brincando, deixa a pessoa com uma sensação de cansaço”, sugere a nutricionista Angela Lerner.

Os médicos sempre falam que, para garantir e facilitar uma boa digestão, é prudente dar caminhadas por uns dez minutos após as refeições. “A pessoa com a barriga muito cheia que não se exercita corre o risco de provocar o chamado refluxo, que ocorre quando o alimento misturado ao suco gástrico volta para o esôfago e causa a famosa azia, aquele ardor na boca do estômago. O mais recomendável é andar após as refeições, o que faz com que o aparelho digestivo se mova”, completa Angela, lembrando que se você quiser tirar uma soneca, o ideal é aguardar de uma a duas horas antes de se deitar. Bem, como nessa época dormir só acontece quando as últimas forças se esgotam, uma boa opção é comer e cair na gandaia. “Desde que se coma alimentos ricos em carboidratos e com pouca gordura, não há o menor problema em se alimentar e pular bastante depois. Um bom exemplo é um macarrão com legumes”, afirma a nutricionista Luciana Polini.

Outra tradição no carnaval é o aparecimento de pessoas desidratadas. Os foliões pulam sem parar e se esquecem de que é essencial manter o corpo sempre hidratado. Para que isso não venha a acontecer, a solução é abusar dos sucos de frutas. “O abacaxi, por exemplo, possui uma enzima que auxilia na digestão das proteínas, o limão tem ação desintoxicante, e o mamão é rico em betacaroteno, potássio, cálcio e vitamina C. As frutas que têm mais calorias, como a manga, o açaí e a banana, são mais energéticas. Já a melancia e o melão, são bem aguadas, menos calóricas e rendem sucos mais refrescantes”, explica Angela Lerner.

Os mais animados podem acrescentar leite, iogurte natural, mel, guaraná em pó ou clorofila. De acordo com uma pesquisa da indústria de agricultura, a composição protéica da clorofila, também conhecida como wheat grass, é de 47,7%, sendo esta concentração composta por todos os aminoácidos necessários para o nosso bem-estar, oito deles essenciais: a lisina é importante para o crescimento corporal e para a circulação sangüínea; a isoleucina estimula a produção de outros aminoácidos; a leucina produz energia, o triptofano gera serotonina, neurotransmissor que traz serenidade e age como anti-stress, a fenilanina trata da tireóide, responsável pelo equilíbrio físico, mental e emocional, a treonina estimula a digestão, a valina ativa o cérebro e acalma os nervos e, por fim, a metionina limpa e regenera as células do fígado e rins.

Na busca pela disposição no carnaval está valendo quase tudo. E, justamente para quem procura uma carga extra de energia e pique, surgiram no mercado as bebidas energéticas. Facilmente encontrados em supermercados e lojas de conveniência, prometem asas para quem os consumir. “O mecanismo de ação dessas bebidas é simples: são ricas em cafeína e taurina, que agem, literalmente, como estimulantes, mas não possuem o poder de fornecer energia. Elas não nutrem o organismo, apenas estimulam tanto quanto um café ou um chá mais forte”, garante a doutora Anita Sachs. Segundo ela, a energia de um alimento ou bebida vem das proteínas e das gorduras, que os energéticos não contêm. “Importante também são os carboidratos, também presentes em pequenas quantidades, na forma de sacarose e glicose”, conclui.

Antes de passar a ser fã dos energéticos, é bom estar consciente da composição do produto e de seus eventuais riscos pois, acreditem, eles existem. Um estudo do Ministério da Saúde revela que uma lata de 200 ml do líquido contêm cerca de 64 miligramas de cafeína, o equivalente a quatro xícaras de café. “Pode parecer nada excepcional, mas ela acelera o ritmo cardíaco e é contra-indicada para as pessoas que possuem problemas de coração”, alerta Luciana Polini. Segundo a nutricionista, por causa do açúcar, o produto não deve ser consumido por diabéticos e a mistura de energéticos com álcool para prolongar a noitada é ainda duvidosa. “A sensibilidade aos energéticos é diferente para cada pessoa e ainda não há estudos que demonstrem os seus efeitos”, finaliza.

Quem procura um milagre ou uma energia fenomenal, cuidado para não se iludir. “Os energéticos não contêm nenhuma substância perigosa que impeça sua comercialização, mas também não possuem nada de excepcional. Apenas fazem a pessoa sentir-se momentaneamente mais acordada. Tem mais a ver com o lado psicológico da pessoa”, esclarece Anita. Para a nutricionista, um copo de água com uma pitada de sal e outra de açúcar é suficiente para repor os sais perdidos na folia. Além disso, não possuem corantes, nem acidulantes.

Então vamos cair na folia, mas sem esquecer de como manter o pique no carnaval. Afinal de contas, não é porque o governo está racionando energia que você também vai ficar sem, né?

Agradecimentos:

Dr. Anita Sachs – Nutricionista e professora da cadeira de nutrição da UNIFESP

Tel: (11) 9387 1230

Angela Lerner Sadcovitz – Nutricionista

Estação do Corpo

Av. Borges de Medeiros, 1426

Lagoa – Rio de Janeiro – RJ

Tel.: (21) 2219 3136 ou 2219 3123

Luciana Piolini – Nutricionista

Clínica Nutrição, Equilíbrio & Saúde

Av. Professor Giácomo Ítria, 388

Anhangabaú – Jundiaí – SP

Tel. (11) 4522 2416