*Matéria publicada em 21/07/2016
Desde o ano passado, o mosquito Aedes aegypti entrou na mira das ações de controle de todos os brasileiros ao se descobrir que ele também transmitia, além da dengue, febre amarela e chikungunya, o Zika vírus. Uma pesquisa inédita da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), entretanto, aponta um velho conhecido da população como potencial vetor da doença: a muriçoca, ou pernilongo comum, da espécie Culex quinquefasciatus.
A novidade deve mudar drasticamente as formas de controle – já que cada espécie de mosquito tem uma forma de agir na transmissão do vírus.
Diferenças entre os mosquitos
O Aedes costuma picar durante o dia; já o pernilongo ou muriçoca, à noite. Enquanto o Aedes prefere água limpa para depositar seus ovos (e, para eliminá-lo, basta retirar objetos que acumulem água de chuva, por exemplo, da sua casa), o Culex “prefere água extremamente poluída”.
A duração dos ovos do Aedes é mais resistente; eles ficam mais de um ano nas bordas de baldes, garrafas e latas; já os ovos da muriçoca não sobrevivem fora d’água. A comparação foi destacada em artigo da Academia Brasileira de Ciências (ABC), que acompanhou a 68ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, em que a pesquisadora responsável pelo estudo participou de mesa-redonda.
Esta mudança, segundo a Fiocruz, ainda será avaliada para que seja revelado, precisamente, qual é o papel do Culex na disseminação do vírus zika e na epidemia. Por enquanto, “a política de controle da epidemia de zika continuará pautada pelas mesmas diretrizes, tendo seu foco central no controle do Aedes aegypti”, informou a Fundação.
Zika vírus: transmissão por pernilongo
Até então, era sabido que o zika vírus tinha quatro formas de transmissão, além da picada pelo Aedes: por relações sexuais, pelo líquido amniótico de mãe para filho, pelo leite materno e pelo sangue.
Após a realização de testes laboratoriais com pernilongos comuns, os pesquisadores descobriram que essas espécies apresentavam a mesma carga viral que o Aedes.
“É a mesma carga viral que a do Aedes, os dois são vetores, mas se o Culex é vinte vezes mais abundante no ambiente urbano, quem é o maior vetor? Eu estou convencida de que não é o Aedes aegypti”, reforçou a coordenadora do estudo, Constância Ayres, à ABC.
Vale lembrar que o zika vírus está associado à incidência de microcefalia em bebês cujas mães foram picadas ainda grávidas e à Síndrome de Guillain-Barré.

Como foi feita a pesquisa
A pesquisa foi realizada da Região Metropolitana do Recife, onde a população do Culex quinquefasciatus é cerca de vinte vezes maior do que a população de Aedes aegypti.
A técnica utilizada no experimento foi baseada na detecção do material genético do vírus.
De acordo com informações de Constância Ayres à ABC, alguns trabalhos já haviam mostrado a baixa eficiência na transmissão do vírus pelo Aedes em alguns lugares, como o Rio de Janeiro.
Controle dos pernilongos
Ainda à entidade, Constância destacou que o fato de o Culex preferir água parada, com dejetos orgânicos, reforça a necessidade de melhorias no setor de saneamento do País. “Zika é um problema social; não podemos culpabilizar o mosquito”, destacando que a chance de sucesso de controle do Culex é maior que a do Aedes, por ser possível rastrear mais precisamente os focos e criadouros.
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