Com o surgimento de smartphones há alguns anos, ficou muito mais fácil tirar fotos, inclusive de si mesmo, e as selfies viraram febre, especialmente entre os jovens.
O que surgiu como mais uma comodidade proporcionada pela tecnologia, no entanto, pode ser um risco para algumas pessoas ao facilitar o desenvolvimento de uma séria condição: otranstorno de autoimagem. Entenda esta relação.
Compulsão por selfies
Selficídio foi o nome criado para descrever a compulsão por selfies, fenômeno intensificado após a popularização dos smartphones. Apesar de soar quase como uma piada para quem nunca ouviu falar do problema, trata-se de uma condição grave que pode até levar ao suicídio.
A denominação moderna serve, na verdade, para descrever um transtorno conhecido há muito tempo, mas que agora ganhou novas proporções. “O selficídio é uma vertente do Transtorno Dismórfico Corporal, patologia que faz com que a pessoa esteja constantemente insatisfeita com a própria imagem”, explica a médica psiquiátrica Maura Kale.
É uma condição mais comum do que se imagina. Em abril de 2016, a jornalista Daiana Garbin revelou que sofre do Transtorno Dismórfico Corporal e até criou um canal no Youtube para falar de sua relação com seu corpo e com a comida.
Caracteríscas do selfiecida
O selficida (pessoa que sofre de selficídio) tem dificuldade em aceitar a sua própria imagem. Por isso, passa a tirar centenas de fotos iguais em busca de uma perfeição inatingível.
“Trata-se de uma constante insatisfação e busca pela perfeição. O selficida tira e apaga fotos de si mesmo compulsivamente e quando a expectativa que ele tem não é atingida, fica frustrado, depressivo”, explica a psiquiatra.
Consequências sociais
Por causa desta preocupação exagerada com um “defeito” que pode ser real ou até imaginário, é comum as pessoas que sofrem com este transtorno começarem a estudar formas de tirar uma selfie mais bonita, truques, programas de edição e tudo isso acarreta em uma grande desperdício de tempo.
A sensação constante de frustração é um grande prejuízo para a vida das pessoas porque é fator desencadeante da depressão. “Como em qualquer outro transtorno, quando o problema traz malefícios, prejuízos e danos para a vida da pessoa, é porque é necessário procurar ajuda médica”, alerta.
O que um selficida busca?
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Segundo a psiquiatra, é possível falar em ganhos secundários porque, ao buscar a perfeição, o selficida geralmente está em busca de afeto, autoaceitação e aceitação na sociedade.
Em casos graves, esta dificuldade em se aceitar pode até mesmo levar ao suicídio.
Quem é mais afetado?
“Os adolescentes costumam ser os mais afetados porque para eles a imagem é muito importante, eles buscam uma aceitação pessoal inatingível e acabam fazendo uma desvalia da própria imagem”, comenta a psiquiatra.
Maura afirma que os sintomas do transtorno geralmente surgem dos 12 aos 20 anos de idade e é mais frequente em mulheres.
“A sociedade enaltece muito os padrões estéticos e isto impacta, principalmente, as mulheres desta faixa etária [12 aos 20 anos], principalmente se são pessoas que quando crianças sofreram abusos, assédio moral ou tiveram uma formação instável, porque elas são as que mais buscam um ganho afetivo com a imagem”.
Para a psiquiatra, a sociedade tem muita influência neste comportamento por causa da possibilidade de mudanças oferecidas. “Antigamente não existia uma oferta tão grande cirurgias plásticas, dietas, procedimentos estéticos, bronzeamentos e tudo isso provoca uma vontade muito grande de se encaixar em um padrão estético”, comenta.
Tratamento
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Como o diagnóstico é feito?
O diagnóstico é feito com o médico psiquiatra. Após a confirmação do transtorno, é feito um tratamento com psicoterapia para tornar os pensamentos da pessoa afetada mais realistas e lineares. Também são receitados medicamentos para tratar sintomas decorrentes da dismorfia, como ansiedade e depressão.
Tipos de terapia utilizadas
De acordo com Maura, os dois tratamentos mais comuns são terapia cognitiva comportamental e terapia psicanalítica. A primeira trata o entendimento sobre a doença, para que o paciente perceba o comportamento que está tendo a partir deste conhecimento e comece a se controlar. O foco é mais na doença.
Já a terapia psicanalítica foca mais no individual. É feita uma análise do paciente para entender por que ele desenvolveu este transtorno, quais os ganhos secundários que ele busca, com o intuito de entender as causas. Nesta terapia, o foco é na pessoa.
Casos na Índia
A palavra selficídio ficou mundialmente conhecida depois de uma jovem ter sido diagnosticads com o transtorno enquanto se preparava para fazer uma cirurgia no nariz em janeiro deste ano, na Índia. O médico que a atendeu considerou a intervenção desnecessária e notou algo de errado no comportamento da jovem, encaminhando-a para atendimento psicológico.
“Ela queria ter certeza que estava linda ao longo do dia e por isso procurava a opinião das pessoas postando muitas fotos suas em redes sociais como Instagram e Facebook”, comentou um dos médicos que atendeu a jovem, em entrevista ao site de notícias britânico Daily Mail.
De acordo com o site, recentemente outros dois jovens indianos também foram diagnosticados com o distúrbio e seus pais, que não quiseram se identificar, disseram que seus filhos apresentavam comportamentos anormais sempre que era impedidos de fazer selfies e postá-las em redes sociais.
Os três, que não tiveram suas identidades reveladas, precisaram ser submetidos a um tratamento psicológico para tratar sintomas de ansiedade provocados pelo Trastorno Dismórfico Corporal (TDC) e por Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC).
O TOC é muito comum entre os selficidas porque a obsessão pela foto perfeita faz com que eles refaçam a selfie inúmeras vezes de maneira compulsiva.
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