Em meio aos muitos casos de pessoas que seguem apresentando sintomas de Covid-19 mesmo após o fim da infecção, especialistas passaram a identificar algo que está popularmente sendo chamado de Covid longa ou síndrome pós-Covid.
Apesar de não haver uma definição concreta do problema, tanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) quanto médicos em todo mundo já reconhecem a condição – e a partir da observação de profissionais da saúde, já há respostas e suposições sobre o quadro.
Covid longa: o que é
Desde o início da pandemia de Covid-19, especialistas têm observado que a doença causada pelo SARS-CoV-2 está ligada ao desenvolvimento de problemas secundários, como comprometimento cardiovascular e respiratório. A condição batizada de Covid longa, porém, difere destas sequelas por ser um conjunto de sintomas inespecíficos – e, apesar do quadro ainda ser cercado de mistérios, a própria OMS já o definiu de forma geral.
Segundo o site da instituição, “a condição pós-COVID-19, também conhecida como ‘Covid longa’, se refere à constelação de sintomas de longo prazo que algumas pessoas apresentam após ter a Covid-19”, como fadiga, falta de ar constante, e disfunções cognitivas (confusão mental, falta de foco, entre outros). Podendo surgir tanto no início da infecção quanto após a recuperação, o quadro tende a durar de semanas a meses e tem afetado, segundo a OMS, de 10 e 20% das pessoas que contraíram o vírus.
Principais sintomas da Covid longa
Ainda que a OMS cite apenas fadiga, dificuldade respiratória e problemas cognitivos ao definir a Covid longa, médicos têm notado uma gama bem mais diversas de sintomas relacionados à infecção pelo vírus. “São os mais variados, desde diarreia persistente, náusea, cansaço, falta de ar a tremores, dormências, alterações persistentes no paladar e no olfato, aumento na pressão, taquicardia”, lista Marco Túlio Aguiar, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC).
Além destes sintomas, a infectologista Karen Mirna Loro, diretora da Sociedade Paulista de Infectologia (SPI), pontua que dores de cabeça e musculares, alterações de sono, transtornos de humor, ansiedade e dificuldades de raciocinar (como se houvesse uma “névoa” na mente) também têm sido observados com bastante frequência. Segundo os especialistas, os quadros diferem muito de paciente para paciente, portanto nem todos apresentam os sintomas citados na totalidade.
É importante frisar, porém, que como a pandemia é algo relativamente recente e a condição ainda está sendo estudada, é possível que o rol de sintomas cresça ou diminua conforme as pesquisas sobre o assunto forem concluídas.
Quanto tempo dura a Covid longa
Ao definir a Covid longa, a OMS estabelece que, para que um paciente seja diagnosticado com a condição, ele deve estar apresentando o conjunto de sintomas há pelo menos dois meses.
Os especialistas Marco e Karen, porém, afirmam que a duração do problema ainda é algo incerto; enquanto alguns pacientes deixam de notar o quadro sintomático após algumas semanas, outros tiveram Covid-19 no início da pandemia e, mesmo dois anos depois, seguem afetados pela síndrome.
Diagnóstico da Covid longa
Até o momento, não há exames laboratoriais capazes de detectar o quadro. Sendo assim, o diagnóstico da síndrome é feito a partir da avaliação médica do paciente e das similaridades entre o quadro apresentado e as definições gerais da Covid longa estabelecida por autoridades em saúde.
Por que a síndrome pós-Covid acontece?
Por ser algo muito recente, ainda não há uma conclusão sobre o que leva a Covid longa a acontecer, mas especialistas de todo o mundo já têm algumas hipóteses. É especulado, por exemplo, que fragmentos do vírus sigam presentes no corpo após o fim da infecção, causando sintomas relativamente leves e inespecíficos, ou que a destruição de células importantes do corpo pelo vírus gere o quadro.
Além disso, segundo Karen, há ainda outra teoria. “Outra hipótese é a de que o vírus desencadeie um estado inflamatório que seria responsável pelo prolongamento dos sintomas”, afirma a especialista, frisando que, apesar das muitas especulações, o tópico ainda é um mistério até que estudos realizados em larga escala e com resultados conclusivos sejam publicados.
Covid longa não está relacionada à gravidade da infecção aguda
Ainda que muitos pensem o contrário, especialistas já observaram que a síndrome pós-Covid não tem relação com a gravidade do quadro infeccioso do paciente após contrair o SARS-CoV-2.
Segundo Marco, a maior parte dos pacientes que apresentam a síndrome teve um quadro sintomático da Covid-19 – mas estes quadros não são necessariamente graves e há, sim, registros de pessoas que foram assintomáticas para a infecção, mas passaram a ter sintomas da Covid longa depois dela.
Transmissibilidade do quadro
Ao contrário da Covid-19 em si, que é extremamente transmissível, a síndrome que vem sendo ligada à ela não passa de pessoa para pessoa.
Isso ocorre porque o quadro se manifesta após a infecção em si, quando não há mais uma carga viral detectável no organismo.
Covid longa em crianças e adolescentes
Como a incidência da Covid-19 em si é menor entre crianças e adolescentes se comparada à incidência entre adultos, o mesmo vale para a síndrome pós-Covid, mas isso não significa que não há casos.
De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), inclusive, os sintomas mais frequentemente apresentados por pessoas mais novas são os mesmos que os notados entre adultos.
Ômicron x Covid longa
Conforme explicam os especialistas Marco e Karen, o fato da variante Ômicron ser algo relativamente recente, a influência dela sobre a incidência da Covid longa ainda é um tópico a ser estudado. Há, porém, suposições sobre uma relação entre a alta transmissibilidade da variante, o aumento expressivo no número de casos observado nos últimos meses e um possível crescimento da quantidade de pessoas com a síndrome.
“Por estar infectando um número muito alto de pessoas, é esperado que tenhamos um número expressivo de pessoas com Covid longa após a infecção por essa variante. Os estudos com outras variantes mostraram taxas variáveis entre 3 e 12% de chance de ter Covid longa, por isso há o receito de que essas taxas possam se repetir com a Ômicron, gerando altos números de pacientes com sintomas persistentes”, pontua Karen.
Vacinação x Covid longa
Apesar de a síndrome pós-Covid ainda ser relativamente misteriosa, o efeito da vacinação sobre a frequência e a intensidade com que ela ocorre já vem sendo bastante observado. Assim como Marco, que notou quadros mais leves e menos sintomas tardios em pessoas vacinadas, Karen também vem se deparando com esta ligação – e, segundo ela, há algumas possíveis explicações para isso.
“Um estudo feito no Reino Unido mostrou que pacientes com duas doses de vacina (esquema orientado no momento do estudo) tinham menor chance de ter sintomas persistentes caso apresentassem a infecção pelo SARS-CoV-2. Além disso, pacientes vacinados costumam fazer quadros mais leves, eliminando o vírus mais rapidamente. Isso talvez auxilie na redução dos sintomas da Covid longa”, afirmou.
Tratamento da Covid longa
Assim como não há exames capazes de detectar esta condição, a Covid longa também não tem um tratamento específico.
Por se tratar de um quadro de sintomas com pouca relação entre si (já que ocorrem, muitas vezes, em sistemas diferentes do organismo), o tratamento, segundo Karen e Marco, tem focado em amenizar cada um dos sintomas com medicações e terapias já conhecidas (como uso de analgésicos, fisioterapia respiratória, entre outros).
Já quanto à prevenção, a OMS afirma que a única forma de evitar o problema é prevenir a própria Covid-19.