Nos últimos dias, a farmacêutica norte-americana centenária Eli Lilly divulgou informações animadoras com relação a um novo tratamento para obesidade.
Passando pela terceira e última fase de testes clínicos, o medicamento Tirzepatida, desenvolvido pela empresa, apresentou resultados parecidos com os da cirurgia bariátrica em termos de perda de peso.
Apesar de ainda ser necessário aguardar novas avaliações e estudos independentes, endocrinologistas já o veem como uma mudança significativa no cenário de pacientes com obesidade, síndrome metabólica e mais.
Novo remédio para emagrecer tem “resultado de bariátrica”
A partir de informações divulgadas pela própria empresa desenvolvedora do medicamento, a substância Tirzepatida, que vem sendo testada pela farmacêutica Eli Lilly, gerou alvoroço no meio médico recentemente.
Isso porque, durante a terceira fase de testes clínicos feitos com pacientes que têm obesidade ou sobrepeso, a substância demonstrou ter potencial para ajudar na perda de peso.
Segundo os dados, ele seria um remédio para emagrecer tão efetivo quanto a cirurgia bariátrica em termos de quantidade de peso perdido.
Segundo o comunicado divulgado pela Eli Lilly, o último estudo clínico com a substância consistiu no uso de diferentes quantidades da Tirzepatida por alguns dos mais de 2,5 mil voluntários, enquanto outra parcela dos pacientes recebeu um placebo.
Em um intervalo de 72 semanas, pacientes perderam 16% do peso corporal com 5 mg semanais da substância, 21,4% com 10 mg semanais e 22,5% com 15 mg semanais. Já com o placebo, a perda observada foi de 2,4%.
Conforme contou Jeff Emmick, vice-presidente do desenvolvimento de produtos da farmacêutica, ao veículo “ Financial Times”, a droga é a primeira a demonstrar a perda de mais de 20% do peso corporal em um estudo de fase três.
Segundo ele, isto faz com que a ação da droga se assemelhe aos resultados gerados pela cirurgia bariátrica, mas sem as possíveis complicações associadas a procedimentos invasivos como este.
O estudo, porém, ainda não passou pela revisão por pares nem teve suas informações submetidas para publicação em periódicos científicos.
Segundo a empresa, a análise teve início em 2019, e há expectativas para mais resultados em 2023, visando também a avaliação do comportamento do medicamento em pacientes pré-diabéticas e diabéticas.
Como funciona e quem pode se beneficiar
Segundo a Eli Lilly, a Tirzepatida é uma injeção que contém tanto GLP-1 (glucagon-like peptide-1) quanto GIP (polipeptídeo inibitório gástrico), ambos hormônios já produzidos pelo corpo.
Conforme explica Cintia Cercato, endocrinologista da SBEM-SP (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional de São Paulo), a medicação estimula os receptores destes hormônios, reduzindo então a fome do paciente e gerando a perda de peso.
Isso significa que a atuação da Tirzepatida é, sim, muito parecida com a de outros remédios para emagrecer já presentes no mercado, como o Saxenda, o Ozempic e o Wegovy, mas com uma ação “dobrada” devido à presença do GIP. Sendo assim, além da ação sobre o apetite, o remédio também atua nas vontades alimentares que não têm necessariamente relação com a fome, mas sim com o chamado “comer emocional”.
Com base nos dados já divulgados, a médica explica ainda que a nova medicação pode ser interessante para além da obesidade.
“Ela vai ser interessante para vários perfis de pacientes, principalmente para os que têm a chamada síndrome metabólica, resistência à ação da insulina, diabetes e hipertensão porque, além dos seus efeitos sobre a regulação do apetite, ela também melhora a sensibilidade à insulina, aumenta a produção de insulina dependente de glicose pelo pâncreas e também está sendo analisada para o tratamento do diabetes tipo 2”, pontua.
Efeitos colaterais
De acordo com a farmacêutica, os efeitos colaterais da Tirzepatida tiveram sua intensidade classificada entre fraca e moderada e, conforme explica Cintia, eles são bastante parecidos com os gerados por outros remédios de ação semelhante.
“Os efeitos colaterais mais frequentes são gastrointestinais. Náusea, vômito, diarréia, intestino preso… Em alguns casos, pode haver um aumento do risco da formação de cálculos na vesícula biliar”, afirma a endocrinologista.
Além disso, a farmacêutica mencionou ainda que, em geral, os efeitos colaterais foram associados a fases nas quais o medicamento está sendo introduzido ou quando o paciente está passando por uma alteração na dose do remédio.
O que dizem e esperam os médicos
Apesar de frisar que é, sim, necessário aguardar informações mais completas (e produzidas de forma independente do laboratório fabricante), Cintia afirma que, para médicos e pacientes que lidam com a obesidade, a notícia é extremamente animadora.
“A gente tem que comemorar! Estamos conseguindo cada vez mais ter tratamentos mais eficientes para obesidade. Essa é a primeira medicação que mostra uma média de perda de peso de 20% ou mais. Até então, isso era uma coisa nunca vista com qualquer medicamento para obesidade”, afirma.
Ela adiciona ainda que, devido ao fato da obesidade ser um problema de saúde crônico, a abordagem também deve ser – e isso significa que pacientes podem ter que usar a Tirzepatida por longos períodos, assim como ocorre com o Ozempic e outros medicamentos semelhantes.
Ela espera, portanto, que novas análises do medicamento demonstrem segurança quanto ao uso prolongado.