Se você acha que a pílula do dia seguinte é um método abortivo ou que ela pode ser tomada indiscriminadamente e sem prescrição médica, esqueça tudo o que você pensava sobre o assunto.
Até mesmo a definição “do dia seguinte” induz ao erro – os médicos a chamam de contraceptivo de emergência. Por ter efeitos colaterais, só deve ser usada em último caso. Mas não tem absolutamente nada a ver com aborto.
Pílula do dia seguinte não é abortiva
A pílula do dia seguinte não tem nenhum efeito se o óvulo já tiver sido fecundado e preso à parede do útero. Ou seja, o contraceptivo de emergência não consegue interromper o início do processo de gestação e, por isso, não é capaz de provocar um aborto.
“Não é abortivo, porque na verdade ela impede que o óvulo, caso seja fecundado, consiga grudar no útero e fazer a placenta. Ela não faz com que com o óvulo já implantado descame e saia, o que aí sim seria aborto”, explica o médico sexologista João Borzino.
A pílula do dia seguinte atua no corpo feminino de diversas maneiras, de acordo com o período do ciclo menstrual. O medicamento impede a liberação do óvulo, caso a mulher ainda não tenha ovulado. E altera as secreções vaginais e o muco cervical, tornando a área bastante hostil para os espermatozoides, em situações onde a mulher está no período fértil. Desta forma, impede a fecundação.
Pílula do dia seguinte só em último caso
O médico sexologista João Borzino avisa que pílula do dia seguinte deve ser usada apenas em casos de emergência. “Se você ficar usando por várias vezes, ela vai perdendo o efeito e você corre um risco cada vez maior. Além disso, existem efeitos colaterais”, alerta.
Dores nas mamas, dores de cabeça, náuseas e vômito estão entre os sintomas mais comuns entre as mulheres que tomam a pílula do dia seguinte. O alto teor de hormônios deste contraceptivo pode causar até complicações mais sérias, como a trombose, e pôr a vida em risco – especialmente em pessoas obesas, diabéticas, fumantes ou hipertensas.
Também é preciso ter cuidado com o uso do contraceptivo de emergência junto com a pílula anticoncepcional. “Se falhou na pílula um ou dois dias, teve uma relação desprotegida e resolveu tomar a do dia seguinte, provavelmente o ciclo vai pirar, porque é uma dose de hormônio muito alta. Não obrigatoriamente vai sangrar uns dias depois, pode demorar muito tempo”.
Segundo o especialista, é preciso interromper o remédio e aguardar o sangramento normal para recomeçar outra caixa. Mas a mulher só estará totalmente protegida a partir do segundo ciclo do anticoncepcional.
Eficácia da pílula do dia seguinte
Outro erro comum é esperar literalmente até o dia seguinte para tomar a pílula. “Na hora que falhou, já está contando o relógio. Não vamos esperar, quanto mais rápido tomar, mais efetivo é o resultado”, explica Borzino.
De acordo com o médico, a eficácia no primeiro dia é de 95% – no segundo dia cai para 85%, e no terceiro, para 50%. “A partir de quatro dias, nem conta mais, só rezando mesmo”. Quando ela é tomada depois de três dias, é recomendável fazer um teste de farmácia.
Em resumo, a pílula do dia seguinte é um dispositivo de emergência que deve ser administrado o mais rápido possível e apenas em último caso. Ainda assim, não tem a menor chance de causar um aborto. “É um salvatório, e não uma verdadeira solução. Não podemos nos basear nela como método, e sim como socorro, em casos muito de exceção”, conclui Borzino.